terça-feira, 24 de novembro de 2009

O ROMPIMENTO DA UHE APERTADINHO E O BURACO DE MILHÕES...e com dinheiro público...

POR ÁGUA ABAIXO - Matéria publicada na revista Época: Um buraco de R$ 150 milhões

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[Política] [23/11/2009 - 11:05]

A destruição causada pelo rompimento da barragem em Rondônia. A obra está parada há mais de um ano.
Lúcio Bolonha Funaro apresenta-se como investidor. Aos 35 anos, ele possui um patrimônio milionário, carros de luxo e escritório em uma área nobre em São Paulo. No mercado financeiro, Funaro é conhecido como doleiro. Ele ganhou fama em 2005, quando sua empresa Guaranhuns apareceu como um dos dutos para o dinheiro do esquema do mensalão. Funaro foi investigado pela CPI dos Correios por operações suspeitas com fundos de pensão e fez um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Apesar do histórico, Funaro aparece agora s como sócio de três fundos de pensão de empresas públicas.

Eles são parceiros na construção da Usina Hidrelétrica do Apertadinho, em Rondônia. A usina deveria estar funcionando há um ano, mas até hoje não gerou um único megawatt de energia. No negócio, os fundos Petros (dos funcionários da Petrobras), Prece (dos funcionários da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) e Celos (dos funcionários das Centrais Elétricas de Santa Catarina) investiram cerca de R$ 150 milhões. Até agora, não receberam um centavo de volta do dinheiro investido, assim como também não têm perspectiva de recuperar esse dinheiro a curto prazo.

Os fundos entraram no empreendimento em 2005, quando se tornaram sócios das Centrais Elétricas Belém (Cebel). Em 2007, a Cebel passou a ser controlada pela Gallway Projetos e Energia do Brasil. A Gallway pertence oficialmente a uma companhia offshore registrada na Holanda e funciona no escritório de Lúcio Funaro em São Paulo. Um mês antes de sua inauguração, prevista para fevereiro de 2008, a Usina do Apertadinho foi, literalmente, por água abaixo. A barragem que formava o lago no Rio Melgaço se rompeu e uma tromba-d’água deixou um rastro de destruição de 6 quilômetros de extensão por 1 quilômetro de largura perto da cidade de Vilhena. Pelo contrato com a Cebel, os fundos começariam a ser remunerados pelo investimento feito na construção da usina a partir de setembro de 2008, com a venda da energia que seria gerada. Mas eles só recolheram prejuízos até agora. A Celos aprovisionou R$ 11 milhões no balanço de 2008 e mais R$ 45 milhões neste ano para cobrir as perdas.

Recentemente, quando ouviram que teriam de colocar mais dinheiro no negócio para retomar a construção da usina e evitar um prejuízo total, os fundos resolveram tomar providências contra a Cebel. “Os fundos decidiram tomar providências para cobrar a dívida da Cebel por falta de cumprimento do contrato”, afirma Eduardo Clemente, advogado do fundo Celos. Segundo os fundos, faltou cumprir vários pontos do contrato, entre eles o seguro para cobrir eventuais prejuízos da obra. Funaro culpa o consórcio construtor Vilhena, formado pela construtora Schahin e pela Empresa Industrial Técnica (EIT), pela falta do seguro. O consórcio devolve a responsabilidade a ele.

O Prece, um dos fundos prejudicados, já perdeu anteriormente dinheiro em operações com Funaro

Após o acidente, Funaro tentou negociar com os fundos, mas foi rechaçado. “Lúcio Funaro chegou a se apresentar como controlador da Gallway e da Cebel em uma das reuniões”, afirma Milton de Queiroz Garcia, presidente da Celos. “Como não havia nada no nome dele, não permitimos mais sua presença nas reuniões.” “É mentira. Eles não podem me impedir de participar de reuniões. Eu sou representante da Gallway”, diz Funaro. A Celos investiu R$ 30 milhões na usina. Os fundos Petros e Prece investiram R$ 62 milhões cada um. Mas seus dirigentes preferem não falar no assunto. “Trata-se de uma operação de investimento realizada por administrações anteriores, sobre a qual a atual gestão não teve ingerência”, afirma o Prece em nota.


SÓCIO
Funaro depõe na CPI dos Correios. Ele tem um histórico de operações suspeitas com fundos de pensão

O Prece é presença comum nos negócios de Funaro. Era um dos fundos que tiveram prejuízos em operações suspeitas com Funaro, de acordo com investigações da CPI dos Correios em 2006. Outra coincidência é que entre os diretores da Gallway está o engenheiro Lutero Castro, ex-presidente da Companhia de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), principal patrocinadora do Prece. Em 2007, a Justiça bloqueou os bens de Castro, por entender que ele teria causado prejuízos à Cedae. Castro chegou a ser candidato a uma diretoria na estatal Furnas Centrais Elétricas por indicação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em 2005, Eduardo Cunha morava em um apartamento em Brasília, cujo aluguel era pago por Funaro.



Além dos problemas na Usina do Apertadinho, a Gallway enfrentou outros contratempos recentemente. Ela foi obrigada a sair da sociedade na Usina Hidrelétrica da Serra do Facão, em Goiás, uma das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Até o ano passado, a Gallway estava na sociedade com Alcoa, Camargo Correa, DME Energética e a estatal Furnas. Mas o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vetou um empréstimo de R$ 540 milhões por causa da presença da Gallway. Diante do obstáculo, Furnas comprou a parte da Gallway e o BNDES liberou o empréstimo. Tanto Furnas quanto o BNDES se recusam a dar detalhes sobre o negócio.

A Gallway tem muitas semelhanças com outra empresa de Funaro, a Guaranhuns. No papel, as duas pertencem a uma offshore e a um sócio minoritário desconhecido, que trabalha para Funaro. Outra coincidência entre as duas é que levantam suspeitas e causam confusão quando.

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