quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Xapuri, o Empate continua

DECLARAÇÃO DE XAPURI
CHICO MENDES NO EMPATE CONTRA AS FALSAS SOLUÇÕES DO CAPITALISMO VERDE
         

Daqui de Xapuri, afirmamos ao mundo que Chico Mendes não morreu: foi assassinado. Esse foi o preço que ele pagou por dedicar sua vida à causa da reforma agrária e da proteção da floresta, já que os dominantes nunca aceitaram que os povos da floresta tivessem direito à terra, ao pão e ao sonho. Acharam que assassinando-o, enterrariam sua luta. Mas, já era tarde. Chico havia se transformado numa força que ultrapassou sua existência física.
Desde seu assassinato, sua memória cresceu em importância. Conscientes disso e com medo de seu poder libertário, os de cima se lançaram na tarefa de se apropriar dela através de um contínuo e sistemático processo de distorção.
Isso foi o que os governos da Frente Popular do Acre (FPA) fizeram ao longo dos últimos 20 anos: servindo aos interesses do capital internacional, impuseram, usando e abusando da imagem de Chico Mendes, um conjunto de políticas cujo resultado foi o aumento da privatização e da destruição da floresta.
Indo da exploração florestal madeireira, de gás e petróleo no Vale do Juruá, e da mineração, passando pela pecuária extensiva de corte e abrindo as portas para os projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal - REDD e outras formas de Pagamentos para Serviços Ambientais – PSA, essas políticas representam, em tudo, a mais absoluta negação daquilo que o líder seringueiro defendeu, pois privatizam as florestas, violam os direitos dos povos da floresta e os tratam como criminosos.
Em todo esse processo desfiguram e, num certo sentido, assassinam Chico Mendes, uma e outras vezes mais, fazendo dele um defensor do mesmo capitalismo que o assassinou, ou seja, fazendo dele o contrário do que ele foi.
Lamentavelmente, o que vemos hoje no Acre é a tentativa de transformar em mercadoria terras e territórios que são sagrados para os povos originários e que, além disso, são a base de subsistência de todos os habitantes da floresta.

Por isso é que, nos últimos anos, vimos crescer em nosso meio a criminalização tanto de práticas ancestrais das comunidades locais, como de toda forma de resistência à apropriação capitalista da natureza.
Fiéis ao legado de lutas de Chico Mendes, denunciamos esses projetos assassinos e aqueles que os defendem. Com base em nossas dolorosas experiências, afirmamos ao mundo que propostas como “desenvolvimento sustentável” e “economia verde” não passam de farsa e tragédia.
São farsa porque não protegem a natureza como dizem. São uma tragédia porque fazem exatamente o contrário disso. E nós sabemos a razão: não há saída no capitalismo, seja em qualquer uma de suas formas, ou com qualquer uma de suas cores. Não pode cuidar da vida um sistema assassino.   
Denunciamos essa farsa e exigimos a suspensão imediata de todos os projetos de exploração florestal madeireira e de todas as políticas de compensação ambiental e climáticas derivadas das falsas soluções do capitalismo verde, a demarcação de todas as terras dos povos indígenas, e uma reforma agrária com soberania popular. 
Pela Amazônia, pela reforma agrária, pela demarcação das terras indígenas e contra o capitalismo verde e de todas as outras cores, seja conduzido por governos ditos de esquerda ou por governos assumidamente fascistas!


Chico Mendes vive. A luta segue.







Xapuri, 16 de dezembro de 2018











Assinam esta carta as seguintes entidades:

Grupo de Pesquisa Trabalho, Território e Política na Amazônia (TRATEPAM)
Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO)
Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)
Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi de Boca do Acre e Amazonas (OPIAJBAM))
Movimento dos Pequenos Agricultores de Rondônia (MPA)
Via Campesina
Amigos da Terra - Brasil
Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Ufac (CACS)
Movimento Esquerda Socialista – PSOL
Coletivo Juntos - Acre
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (STR-Xapuri)
Federação do Povo Huni Kui do Acre (FEPAHC)
Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS)
Instituto Madeira Vivo – IMV
Aliança dos Rios Panamazonicos
Equipe Itinerante
Centro Shuar Kupiamais (Equador)
Conselho Indigenista Missionário – Cimi









terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Xapuri...de Chico Mendes a Mercantilização da natureza

http://lindomarpadilha.blogspot.com/2018/12/declaracao-de-xapuri-chico-mendes-no.html?m=1


DECLARAÇÃO DE XAPURI
CHICO MENDES NO EMPATE CONTRA AS FALSAS SOLUÇÕES DO CAPITALISMO VERDE
         

Daqui de Xapuri, afirmamos ao mundo que Chico Mendes não morreu: foi assassinado. Esse foi o preço que ele pagou por dedicar sua vida à causa da reforma agrária e da proteção da floresta, já que os dominantes nunca aceitaram que os povos da floresta tivessem direito à terra, ao pão e ao sonho. Acharam que assassinando-o, enterrariam sua luta. Mas, já era tarde. Chico havia se transformado numa força que ultrapassou sua existência física.
Desde seu assassinato, sua memória cresceu em importância. Conscientes disso e com medo de seu poder libertário, os de cima se lançaram na tarefa de se apropriar dela através de um contínuo e sistemático processo de distorção.
Isso foi o que os governos da Frente Popular do Acre (FPA) fizeram ao longo dos últimos 20 anos: servindo aos interesses do capital internacional, impuseram, usando e abusando da imagem de Chico Mendes, um conjunto de políticas cujo resultado foi o aumento da privatização e da destruição da floresta.
Indo da exploração florestal madeireira, de gás e petróleo no Vale do Juruá, e da mineração, passando pela pecuária extensiva de corte e abrindo as portas para os projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal - REDD e outras formas de Pagamentos para Serviços Ambientais – PSA, essas políticas representam, em tudo, a mais absoluta negação daquilo que o líder seringueiro defendeu, pois privatizam as florestas, violam os direitos dos povos da floresta e os tratam como criminosos.
Em todo esse processo desfiguram e, num certo sentido, assassinam Chico Mendes, uma e outras vezes mais, fazendo dele um defensor do mesmo capitalismo que o assassinou, ou seja, fazendo dele o contrário do que ele foi.
Lamentavelmente, o que vemos hoje no Acre é a tentativa de transformar em mercadoria terras e territórios que são sagrados para os povos originários e que, além disso, são a base de subsistência de todos os habitantes da floresta.

Por isso é que, nos últimos anos, vimos crescer em nosso meio a criminalização tanto de práticas ancestrais das comunidades locais, como de toda forma de resistência à apropriação capitalista da natureza.
Fiéis ao legado de lutas de Chico Mendes, denunciamos esses projetos assassinos e aqueles que os defendem. Com base em nossas dolorosas experiências, afirmamos ao mundo que propostas como “desenvolvimento sustentável” e “economia verde” não passam de farsa e tragédia.
São farsa porque não protegem a natureza como dizem. São uma tragédia porque fazem exatamente o contrário disso. E nós sabemos a razão: não há saída no capitalismo, seja em qualquer uma de suas formas, ou com qualquer uma de suas cores. Não pode cuidar da vida um sistema assassino.   
Denunciamos essa farsa e exigimos a suspensão imediata de todos os projetos de exploração florestal madeireira e de todas as políticas de compensação ambiental e climáticas derivadas das falsas soluções do capitalismo verde, a demarcação de todas as terras dos povos indígenas, e uma reforma agrária com soberania popular. 
Pela Amazônia, pela reforma agrária, pela demarcação das terras indígenas e contra o capitalismo verde e de todas as outras cores, seja conduzido por governos ditos de esquerda ou por governos assumidamente fascistas!


Chico Mendes vive. A luta segue.







Xapuri, 16 de dezembro de 2018











Assinam esta carta as seguintes entidades:

Grupo de Pesquisa Trabalho, Território e Política na Amazônia (TRATEPAM)
Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO)
Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)
Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi de Boca do Acre e Amazonas (OPIAJBAM))
Movimento dos Pequenos Agricultores de Rondônia (MPA)
Via Campesina
Amigos da Terra - Brasil
Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Ufac (CACS)
Movimento Esquerda Socialista – PSOL
Coletivo Juntos - Acre
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (STR-Xapuri)
Federação do Povo Huni Kui do Acre (FEPAHC)
Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS)
Instituto Madeira Vivo (IMV)
Aliança dos Rios Panamazonicos
Comite Defensores de la Vida Amazonica en la Cuenca del Madeira
Equipe Itinerante
Centro Shuar Kupiamais (Equador)
Conselho Indigenista Missionário – Cimi




sábado, 15 de dezembro de 2018

De Xapuri ecoa Vozes distoantes do neodesenvolvimento


Indígenas, extrativistas, campesinos do Brasil e Ecuador em Xapuri denunciam a financeirização da natureza



Mais de 50 lideranças indígenas, campesinos, indigenistas, extrativistas, pesquisadores e socioambientalistas, do Brasil e do Ecuador, estão reunidos em Xapuri desde este dia 14 de dezembro e denunciam as mazelas dos projetos de sequestro de carbono, denominada economia verde, manchada de sangue dos povos que têm seus territórios privatizados por estes projetos que visam dar condições às empresas poluidoras no Brasil e exterior de continuarem a produzir e poluir, enquanto que em reservas extrativistas, assentamentos e terras indígenas seus habitantes são privados de utilizarem a natureza em prol de suas vidas.
As lideranças denunciam que a imagem de Chico Mendes e sua morte tem sido utilizada como marketing para captação de recursos e venda da floresta com o discurso da conservação ambiental.
Denunciam que Chico Mendes foi assassinado por não concordar com a prática dos "paulistas", os fazendeiros que derrubavam para se apossar e expulsar os moradores tradicionais. Com o discurso da sustentabilidade só mudaram os métodos, mas os fins continuam os mesmos.
Por outro lado, na noite desse dia 14 um show em praça pública da o tom de que uma grande festa se aproxima  e se iciará na manhã do dia 15 um mega evento, com estrelas do socioambientalismo nacional e internacional, patrocinado por muitos órgãos de governo e entidades com uma vasta programação até dia 17, porém sem espaço para debate e interlocução dos discursos com as práticas no campo.
Será que o mega evento é para denunciar as violências, esse modelo econômico do qual Chico Mendes e tantos lutadores e lutadoras foram vítimas?
O evento paralelo como tem sido chamado este das vítimas do REDD produzirá uma carta pública e a divulgará no dia 16 no encerramento do mesmo.

De Xapuri, Iremar Ferreira

sábado, 1 de dezembro de 2018

FRENTE POR UMA NOVA POLÍTICA ENERGÉTICA EM CARTA AO POVO BRASILEIRO

http://fmclimaticas.org.br/carta-aberta-da-frente-por-uma-nova-politica-energetica-para-o-brasil/

SEMINÁRIO NACIONAL DO FÓRUM MUDANÇAS CLIMATICAS EM BRASILIA

http://fmclimaticas.org.br/resistencia-comecou-o-seminario-nacional-do-forum-mudancas-climaticas-e-justica-social/

SEMINÁRIO BIOMA PANTANAL

http://fmclimaticas.org.br/povos-e-comunidades-do-pantanal-se-reunem-para-discutir-a-situacao-do-bioma/

RIO MADEIRA ANUNCIA TEMPO DE INCERTEZAS EM SUAS MARGENS

"O mesmo rio que gera vida também pode gerar flagelo das populações que vivem em suas margens"! 

Nos últimos dias de novembro de 2018 a Defesa Civil do Município de Porto Velho e do Estado de Rondônia já entrou em campo para alertar a população de possível nova cheia, fator que chamamos de inundação pelo fato da mesma extrapolar os limites do conhecimento tradicional, pois é motivada pela interferência no curso de água do Rio Madeira com a construção das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau.

Todos os sinais são evidentes de que 2019 pode ser tanto quanto a inundação de 2014, já que antes mesmo de iniciar o mês de dezembro, ruas da cidade de Guajará Mirim, distante cerca de 350km da capital, Porto Velho, já se encontram com partes alagadas, fator que geralmente acontece no mês de janeiro para fevereiro. Isso pode ser motivada por dois fatores: a barragem de Jirau está represando mais água que o devido para o período ou está caindo muita chuva nas cabeceiras dos principais formadores do Rio Madeira, em território boliviano, ao ponto de já ter enxarcado as planícies e descendo num volume alto de água provocando esta inundação "atípica", já que ao chegar nos pés da barragem de Jirau, num efeito de remanso regressa e inundando as partes mais baixas na calha do rio.

Os efeitos dessa elevação também pode ser observado no asfalto inundado, da BR 364, na região da antiga Velha Mutum, cuja pista tem lugares parcialmente alagados devido as obras de elevação que pela segunda vez tentam tirá-la do nível de inundação, claro tudo isso pago com recursos do povo brasileiro. Este fato pode ser observado em imagem abaixo, extraída do Jornal Diário da Amazônia deste dia 01-12-2018. (https://www.diariodaamazonia.com.br/agua-cobre-trecho-da-br-364-em-rondonia-e-ameaca-isolar-o-acre/)

Entretanto, na cidade de Porto Velho, na região da beira do Madeira, de modo particular no Porto do Cai N´Agua e Estrada de Ferro Madeira Mamoré, abaixo da hidrelétrica de Santo Antonio, a situação já é alarmante e pode ser percebida pela elevação da água em igarapés que deveriam jogar água no Madeira e o fluxo já está ao contrário, estes estão elevados com água adentrando bairros. Por outro lado, as pedras da barreira de contenção, com vistas à proteção do patrimônio histórico material com mais de 100 anos de existência, mais uma vez está ameaçada e provavelmente sofrerá nova inundação, conforme imagens abaixo, que demonstra a gravidade do problema.

Diante desse cenário em curso, fica as indagações quanto a situação das comunidades rio à baixo como São Carlos, Nazaré, Calama, dezenas de pequenas comunidades e milhares de famílias que vivem à mercê da própria sorte, já que o poder público nas diversas instâncias, sequer expressam preocupação e ação para mitigar os problemas decorrentes da inundação de 2014 (reassentamento, queda de barrancos), quem dirá frente às novas ameaças.

Senhor Venâncio, morador antigo de Nazaré, no baixo Madeira assim enxerga este momento: "eu vivo aqui a mais de 50 anos e nunca tinha sofrido como na inundação de 2014...mas eles falaram que foi chuva anormal, mas este ano de 2018 nós fomos inundados de novo, então quer dizer que o que era anormal está ficando normal e isso é perigoso pra nós, pois não sabemos o que será no dia de amanhã...se nois plantar pode perder tudo, ai não planta e se não planta fica sem comida...como fazer diante disso...antes das hidrelétricas não era assim, depois que mexeram tudo no rio e o desmatamento as coisas mudaram muito...até o sol tá mais quente!"

Diante das incertezas deste povo da beira, da cuenca do rio Madeira, o que poderá esperar do novo governo já que o mesmo antes de assumir a presidência, já renuncia aos tratados ambientais internacionais assumidos pelo Brasil e até mesmo de receber no Brasil a Conferência das Partes sobre o Clima - COP25 em 2019.








SEMINÁRIO NACIONAL DO FÓRUM MUDANÇAS CLIMÁTICAS E JUSTIÇA SOCIAL DIVULGA CARTA ÀS PESSOAS DE BOA VONTADE


TEMPO DE INCERTEZAS E ESPERANÇA

CARTA DO SEMINÁRIO NACIONAL

Reunidos em Brasília entre 27 e 30 de novembro de 2018, nós participantes do FÓRUM MUDANÇAS CLIMÁTICAS E JUSTIÇA SOCIAL tornamos pública esta Carta em momento histórico de incerteza e insegurança. Tempo que nos convoca à esperança.

Na contramão da História recente, o governo eleito em outubro deste ano anuncia políticas que aprofundarão o abismo das desigualdades de renda, riqueza, liberdade e condições de vida em todo o Brasil. A cultura do pensamento único buscará substituir o diálogo e a liberdade de opinião e de expressão. Que efeitos terão o desmonte do poder regulador do Estado, a privatização de propriedades públicas estratégicas e a entrega das nossas empresas e bens naturais, protegidos pela Constituição, a corporações transnacionais?  Aqueles que deverão governar o Brasil até 2022 trazem a desproteção social e ambiental através de contrarreformas da previdência e trabalhista e da mercantilização da Natureza. As perseguições aos que lutam por seus direitos, em particular os movimentos de mulheres, as comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, também fazem parte deste contexto. A população brasileira sofrerá mais com o aumento da exploração e da opressão. A Nação empobrecerá com a perda da soberania sobre seu território e suas riquezas.

A desistência do Brasil em sediar a COP25 - a Conferência do Clima de 2019) - teria o intuito de encobrir a política anunciada de intensificação da entrega da Amazônia, das águas - inclusive as subterrâneas -  e das riquezas vegetais e minerais à ganância do capital transnacional, consolidando a renúncia à soberania nacional com a cumplicidade do Exército brasileiro? Isto ameaça a subsistência de todas as formas de vida, inclusive dos povos das águas, da floresta e dos campos, e altera radicalmente o equilíbrio climático de todo o planeta. Estas imposições do modelo de desenvolvimento econômico predatório beneficiam o grande capital transnacional e comprometem também a vida em todos os biomas.

Por outro lado, as ações de resistência com base no anseio pelo Bem Viver e pelas relações solidárias entre as pessoas e com os ecossistemas têm se fortalecido através do engajamento de entidades e comunidades em redes de atuação organizadas pela defesa dos bens comuns como patrimônio da Terra e dos seus povos, portanto, não privatizáveis. Estamos construindo um modo de vida que parte dos territórios geridos pelas comunidades locais e pelos seus habitantes, que são os primeiros interessados num ambiente acolhedor e protegido. A autogestão desses territórios é o caminho para a soberania alimentar e nutricional com base agroecológica. Como guardiãs da integridade dos ecossistemas, estas comunidades são sujeitos ativos no planejamento e implementação do desenvolvimento socioeconômico e técnico baseado nas suas próprias demandas. Isto implica o resgate do papel do Estado como indutor do empoderamento democrático da população.

Diversas iniciativas demonstram que estas ações de resistência e inovação já estão em marcha, tais como a campanha Água Nossa de Cada Dia, o Tribunal dos Povos do Cerrado 2019, o Pantanal Sem Limites, a Campanha da Fraternidade sobre políticas públicas, a Campanha das Cisternas no Semi-Árido, a campanha Territórios Pesqueiros, a Frente por uma Nova Política Energética para o Brasil, o Fórum Social Panamazônico e a rede nacional de cooperativas Concrab do MST, que fecha cada ano com uma Feira Nacional da Reforma Agrária.

Defendemos uma visão multilateral da Governança Global, onde a hierarquia cede lugar à Democracia e a Cidadania Planetária une os povos, irmanados na nossa Casa Comum.

Defendemos o esforço intensivo para inverter até 2020 a tendência de aumento das emissões de gases de efeito estufa e estancar urgentemente o desastroso aquecimento global.

Defendemos a superação da Soberania solitária dos nacionalismos fascistas pela Soberania Solidária, que acolhe com respeito mútuo a diversidade dos povos e das suas culturas.

Frente ao comprometimento das entidades do Fórum em investirem na formação para a comunicação e a educação populares, vislumbramos diversas possibilidades para o fortalecimento de práticas transformadoras e para a formação de sujeitos críticos e cientes da força multiplicadora dos ideais de paz e justiça. O objetivo é ir além da resistência, que por vezes é reativa e limitada à pauta determinada pelos detentores do poder político e econômico. Mais do que isto, é importante resgatar o potencial revolucionário da unidade que pode nascer somente da diversidade trazida por cada ser e por cada realidade.

Unimo-nos às redes de cidadãs e cidadãos planetários para lançarmos juntos o Apelo às Consciências e a Ágora dos Habitantes da Terra, celebrando os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 10.12.18, em defesa da Vida do planeta e do Bem Viver como ideal unificador de todos os povos em igual dignidade, liberdade e irmandade.

“A Terra espera ardentemente Práticas Humanas para Libertar-se”

Novembro de 2018


terça-feira, 18 de setembro de 2018

CARTA DOS GUERREIROS E GUERREIRAS PELA VIDA E CONTRA UHE TABAJARA NO RIO MACHADO - Versão Portugues e Espanhol





CARTA DO ENCONTRO DE GUERREIROS E GUERREIRAS EM DEFESA DOS POVOS E DO RIO JI-PARANÁ CONTRA A PROPOSTA DE CONSTRUÇÃO DA HIDRELÉTRICA DE TABAJARA

Nós, participantes do Encontro de Guerreiros e Guerreiras em defesa dos Povos e do Rio Ji-Paraná, na Terra Indígena Tenharim Marmelos, Aldeia Yreru'a – Taboca, Rodovia Transamazônica, com a presença de lideranças dos Povos Tenharim do sul do Amazonas, Karo Arara, Karipuna, Oro Waram Xijein de Rondônia, com nossos aliados do Instituto Madeira Vivo – IMV, Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Conselho de Missão entre Povos Indígenas – COMIN, Comissão Pastoral da Terra – CPT/Rondônia, convocados pela Associação do Povo Indígena Tenharim Morogitá – APITEM, Organização dos Povos Indígenas do Alto Madeira – OPIAM e Aliança dos Rios Panamazônicos / Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, nos reunimos entre os dias 13 a 15 de setembro, com o objetivo de discutir os impactos já gerados pela proposta de construção da usina hidrelétrica de Tabajara no rio Ji-Paraná (por nós e na região conhecido por rio Machado) e as ameaças à vida do rio e dos povos e comunidades da floresta, das águas, do campo e cidade, bem como planejar ações conjuntas contra este projeto, que a exemplo das hidrelétricas do rio Madeira só tem produzido a morte do rio, das plantações e da cultura dos povos que já há muitos anos viviam ou que insistem em viver em suas margens e seus territórios.
Queremos deixar claro que nós somos contrários à proposta de construção da hidrelétrica Tabajara e de qualquer outro projeto hidrelétrico em rios Amazônicos, pois temos outras fontes de energias renováveis sustentáveis justas, principalmente a energia solar fotovoltaica, fonte abundante em nossa região, que devem ser implementadas para gerar melhores condições de vida a nossas populações. Reafirmamos nosso compromisso histórico de luta contra os projetos hidrelétricos na bacia do rio Machado que vem desde a década de 80.
Somos contrários à UHE Tabajara porque ameaça a vida de vários povos indígenas em condições de isolamento e risco e nós temos o compromisso de defender a vida destes povos. Além dos dois povos já mencionados no laudo pericial do MPF, ainda existem  outros três grupos em condições de isolamento que perambulam fugindo dos invasores no Maici, próximos da TI Jiahui,  próximo da  T.I. Igarapé Preto e na Reserva Biológica do Jarú.
Nossa preocupação aumenta porque na Bacia do Rio Madeira havia vários grupos em condição de isolamento e risco, de conhecimento da própria FUNAI, e só citados por ela posteriormente ao licenciamento da UHE Santo Antônio e Jirau.  Não foi constituída nenhuma ação de proteção aos mesmos e ainda extinguiram a Frente Etnoambiental do Madeira, responsável pela localização e proteção desses povos. Por isso, denunciamos que os vestígios dos isolados na Serra Três Irmãos e Jacareúba desapareceram, o que pode significar o genocídio destes grupos em decorrência do forte processo de migração e desconfiguração da floresta por desmatamento e alagação, o que coloca o governo e empresas construtoras na condição de criminosas.
Denunciamos que a interferência da FUNAI em comunidades indígenas para que estas sejam favoráveis aos estudos com vistas ao licenciamento de projetos hidrelétricos, chega a ser criminosa, pois agem contra seu papel institucional e contra os interesses dos povos. Isso se dá devido à grande intervenção política na gestão do órgão e descompromisso com a vida dos atingidos. A omissão e a pactuação provocam a morte física e a perda do território, a exemplo do que está acontecendo na T.I. Karipuna.
Denunciamos que a FUNAI apresentou no Termo de Referência da UHE-Tabajara só a T.I. Tenharim Marmelos como a única Terra Indígena atingida, ignorando as demais do entorno e principalmente os indígenas em condição de isolamento e risco. Esta omissão permitiu que os estudos feitos pela empresa JGP para viabilizar o projeto da UHE Tabajara, fossem incompatíveis com a realidade. Reafirmamos nosso posicionamento de que o Termo de Referência, de qualquer projeto de infraestrutura, deve ser feito junto a todos os povos afetados para evitar os erros cometidos.
Denunciamos que a vida dos ribeirinhos, pescadores, agricultores familiares, extrativistas, moradores de núcleos urbanos como Tabajara e Machadinho do Oeste já está sendo brutalmente violada a exemplo do ocorrido na bacia do rio Madeira, onde as empresas ditam as regras.
Denunciamos que este modelo de barramento dos rios na Amazônia só tem gerado lucro para as empresas e politiqueiros envolvidos nos esquemas de corrupção, enquanto que aos povos da região tem sobrado só os prejuízos sociais culturais, econômicos e ambientais. Os desequilíbrios provocados  impactam severamente nossa biodiversidade, provocam a destruição de nossas florestas, eliminam nossa base alimentar, que é o peixe e geram  insegurança alimentar e nutricional a nossos povos e comunidades, como tem ocorrido  na bacia do Rio Madeira.
 Denunciamos o governo brasileiro pela omissão e pela violação de territórios ambientais de vital importância para o bioma Amazônia, com a supressão de partes de Unidades de Conservação como da Rebio Jaru e do PARNA Campos Amazônicos. Assim como a total omissão frente às graves ameaças sofridas na reserva do Rio Preto Jacundá que, sequer aparece como território ameaçado, hoje  já violado por madeireiros.
Por fim denunciamos que a UHE Tabajara visa atender aos interesses do grande capital que vem destruindo a cobertura florestal e secando os rios, almejando com este barramento e formação de lago a abertura de novas vias e rotas de produção e escoamento da soja por meio de hidrovias, ou seja, o hidro e o agronegócio estão juntos pela destruição dos ecossistemas onde vivemos.
Reafirmamos nosso compromisso de continuar e permanecer em luta permanente em defesa de nossos direitos fundamentais que é a Vida para as atuais e futuras gerações. Por isso agradecemos o empenho do Ministério Público Federal na atuação em defesa do direito indígena e do direto difuso, para fazer valer o cumprimento dos marcos legais, nacionais e internacionais, no campo dos direitos socioambientais e humanos.
Reafirmamos nosso compromisso de somar na luta com os moradores da região da localidade de Tabajara e Machadinho do Oeste, para construirmos alternativas sustentáveis a este modelo depredador de nossos rios, de nossos modos de vida e de nossas organizações sociais.
Reafirmamos o compromisso de fazer valer o marco legal da consulta prévia, livre, bem informada e de boa fé, elaborando e apresentando nossos protocolos de consulta comunitária, à luz da Convenção 169 da OIT.
Por fim, assumimos o compromisso de nos mantermos unidos e vigilantes para que nossos direitos e os direitos do rio, como ser vivo, possam ser garantidos e respeitados, pois somos filhos e filhas das águas, das florestas e da terra e se algum destes está sendo ameaçado temos o direito e o dever de lutar em sua defesa.
Conclamamos todas as pessoas de boa vontade a unir-se a nós contra este projeto de morte do rio Machado e de nossos povos e comunidades, bem como a defender a adoção de energias renováveis justas para garantir o futuro de nossas gerações e do planeta Terra.
Nós somos filhos e filhas da terra, das águas e das florestas e por isso nosso dever é de garantir a integralidade da vida na Casa Comum.
Nenhuma barragem mais nos rios da Amazônia, pois queremos Águas para a Vida e não para a Morte.
Abaixo assinamos por meio da lista de presença, fazendo ecoar nosso grito por Justiça!!!

Terra Indígena Tenharin Marmelo, Aldeia Yreru'a – Taboca, 15 de setembro de 2018.

CARTA DEL ENCUENTRO DE GUERREROS Y GUERRERAS EN DEFENSA DE LOS PUEBLOS Y DEL RIO JI-PARANÁ CONTRA LA PROPUESTA DE CONSTRUCCIÓN DE LA HIDRELÉCTRICA DE TABAJARA/RO/AM/BRASIL

Los participantes del Encuentro de Guerreros y Guerreras en defensa de los Pueblos y del Río Ji-Paraná, en la Tierra Indígena Tenharim Marmelos, Aldea Yreru'a - Taboca, Ruta Transamazónica, con la presencia de líderes de los Pueblos Tenharim del sur del Amazonas, Karo El Papa Benedicto XVI ha recordado que el Papa Benedicto XVI ha recordado que el Papa Benedicto XVI ha recordado que el Papa Benedicto XVI, TIMARIM Morogitá - APITEM, Organización de los Pueblos Indígenas del Alto Madeira - OPIAM y Alianza de los Rios Panamazónicos / Foro Cambios Climáticos y Justicia Social, nos reunimos entre los días 13 a 15 de septiembre, con el objetivo de discutir los impactos ya generados por la propuesta de " la construcción de la planta hidroeléctrica de Tabajara en el río Ji-Paraná (por nosotros y en la región conocida por río Machado) y las amenazas a la vida del río y de los pueblos y las comunidades del bosque, las aguas, el campo y la ciudad, así como planificar acciones conjuntas contra este proyecto, que a ejemplo de las hidroeléctricas del río Madeira sólo ha producido la muerte del río, de las plantaciones y de la cultura de los pueblos que ya hay muchos años vivían o que insistían en vivir en sus márgenes y sus territorios.
Queremos dejar claro que somos contrarios a la propuesta de construcción de la hidroeléctrica Tabajara y de cualquier otro proyecto hidroeléctrico en ríos Amazónicos, pues tenemos otras fuentes de energías renovables sostenibles justas, principalmente la energía solar fotovoltaica, fuente abundante en nuestra región, que deben ser implementadas para generar mejores condiciones de vida a nuestras poblaciones. Reafirmamos nuestro compromiso histórico de lucha contra los proyectos hidroeléctricos en la cuenca del río Machado que viene desde la década de los 80.
Somos contrarios a la UHE Tabajara porque amenaza la vida de varios pueblos indígenas en condiciones de aislamiento y riesgo y nosotros tenemos el compromiso de defender la vida de estos pueblos. Además de los dos pueblos ya mencionados en el laudo pericial del MPF, todavía existen otros tres grupos en condiciones de aislamiento que deambulan huyendo de los invasores en el Maici, cerca de la TI Jiahui, cerca de la T. I. Igarapé Preto y en la Reserva Biológica del Jarú
Nuestra preocupación aumenta porque en la Cuenca del Río Madeira había varios grupos en condición de aislamiento y riesgo, de conocimiento de la propia FUNAI, y sólo citados por ella posteriormente al licenciamiento de la UHE Santo Antônio y Jirau. No se constituyó ninguna acción de protección a los mismos y aún extinguieron el Frente Etnoambiental del Madeira, responsable por la localización y protección de esos pueblos. Por eso, denunciamos que los vestigios de los aislados en la Sierra Tres Hermanos y Jacareúba desaparecieron, lo que puede significar el genocidio de estos grupos como consecuencia del fuerte proceso de migración y desconfiguración del bosque por deforestación y inundación, lo que coloca al gobierno y empresas constructoras en condición de criminales.

Denunciamos que la interferencia de la FUNAI en comunidades indígenas para que éstas sean favorables a los estudios con vistas al licenciamiento de proyectos hidroeléctricos, llega a ser criminal, pues actúan contra su papel institucional y contra los intereses de los pueblos. Esto se debe a la gran intervención política en la gestión del órgano y descompromiso con la vida de los afectados. La omisión y la pactación provocan la muerte física y la pérdida del territorio, a ejemplo de lo que está sucediendo en la T. Karipuna.

Denunciamos que la FUNAI presentó en el Término de Referencia de la UHE-Tabajara sólo la T. Tenharim Marmelos como la única Tierra Indígena alcanzada, ignorando las demás del entorno y principalmente los indígenas en condición de aislamiento y riesgo. Esta omisión permitió que los estudios hechos por la empresa JGP para viabilizar el proyecto de la UHE Tabajara, fueran incompatibles con la realidad. Reafirmamos nuestro posicionamiento de que el Término de Referencia, de cualquier proyecto de infraestructura, debe ser hecho junto a todos los pueblos afectados para evitar los errores cometidos.
Denunciamos que la vida dos ribeireños, pescadores, agricultores familiares/campesinos, extractores de caucho, pobladores de los espacios urbanos en Tabajara y Machadinho do Oeste ya estan siendo brutalmente violada a la exemplo del ocorido en la cuenca del rio Madeira, donde las empresas ditam las regras.
Denunciamos que este modelo de represamiento de los ríos en la Amazonia sólo ha generado ganancias para las empresas y politiqueros involucrados en los esquemas de corrupción, mientras que a los pueblos de la región sólo han quedado los perjuicios sociales culturales, económicos y ambientales. Los desequilibrios provocados impactan severamente nuestra biodiversidad, provocan la destrucción de nuestros bosques, eliminan nuestra base alimentaria, que es el pescado y generan inseguridad alimentaria y nutricional a nuestros pueblos y comunidades, como ha ocurrido en la cuenca del Río Madeira.
 Denunciamos el gobierno brasileño por la omisión y por la violación de territorios ambientales de vital importancia para el bioma Amazonia, con la supresión de partes de Unidades de Conservación como de la Rebio Jaru y del PARNA Campos Amazónicos. Así como la total omisión frente a las graves amenazas sufridas en la reserva del Río Negro Jacundá que, ni siquiera aparece como territorio amenazado, hoy ya violado por madereros.
Por fin denunciamos que la UHE Tabajara pretende atender a los intereses del gran capital que viene destruyendo la cobertura forestal y secando los ríos, anhelando con este bus y formación de lago la apertura de nuevas vías y rutas de producción y salida de la soja por medio de hidrovías, es decir, el hidro y el agronegocio están juntos por la destrucción de los ecosistemas donde vivimos.
Reafirmamos nuestro compromiso de continuar y permanecer en lucha permanente en defensa de nuestros derechos fundamentales que es la Vida para las actuales y futuras generaciones. Por eso agradecemos el empeño del Ministerio Público Federal en la actuación en defensa del derecho indígena y del directo difuso, para hacer valer el cumplimiento de los marcos legales, nacionales e internacionales, en el campo de los derechos socioambientales y humanos.
Reafirmamos nuestro compromiso de sumar en la lucha con los moradores de la región de la localidad de Tabajara y Machadinho del Oeste, para construir alternativas sostenibles a este modelo depredador de nuestros ríos, de nuestros modos de vida y de nuestras organizaciones sociales.
Reafirmamos el compromiso de hacer valer el marco legal de la consulta previa, libre, bien informada y de buena fe, elaborando y presentando nuestros protocolos de consulta comunitaria, a la luz del Convenio 169 de la OIT.
Por último, asumimos el compromiso de mantenernos unidos y vigilantes para que nuestros derechos y los derechos del río, como ser vivo, puedan ser garantizados y respetados, pues somos hijos e hijas de las aguas, de los bosques y de la tierra y si alguno de éstos está siendo amenazado tenemos el derecho y el deber de luchar en su defensa.
Llamamos a todas las personas de buena voluntad a unirse a nosotros contra este proyecto de muerte del río Machado y de nuestros pueblos y comunidades, así como a defender la adopción de energías renovables justas para garantizar el futuro de nuestras generaciones y del planeta Tierra.
Nosotros somos hijos e hijas de la tierra, de las aguas y de los bosques y por eso nuestro deber es garantizar la integridad de la vida en la Casa Común.
Ninguna represa más en los ríos de la Amazonia, pues queremos Aguas para la Vida y no para la Muerte.
A continuación firmada por la lista de asistencia, haciendo eco de nuestro grito por la justicia !!!
 
Tierra Indígena Tenharin Marmelo, Aldea Yreru'a - Taboca, 15 de septiembre de 2018.


quarta-feira, 8 de agosto de 2018

MBOTAWA - FESTA TRADICIONAL DO POVO PÜRY - TENHARIM / 2018

MBOTAWA - O BEM VIVER SE FAZ NA FORÇA DA CULTURA INDÍGENA TENHARIM
Parte 1


O Povo PÜRY, mais conhecidos por Tenharim, ocupam as Terras Indígenas do Marmelos, Estirão Grande e Igarapé Preto, ambas violadas pelo traçado da BR Transamazônica na década de 60 e compõem um mosaico de unidades de proteção e conservação dos municípios de Humaitá e Manicoré.
Tradicionalmente realizam anualmente seu grande encontro na festa MBOTAWA. Sua organização tem por base os dois clãs: TARAWÉ - Gavião Real e os MUTUNAGWERA - Mutum. 
A Aldeia que nos recebe a todos é a TRACOÁ, liderada pelo cacique Josemilton Tenharim que é Mutum, enquanto que o dono da festa é Tarawé. A festa se desenrolou ao longo dos dias 19 à 23 de julho.
Ainda em 2017 o jovem indígena TAPI (Valdemir Tenharim), aceitou o desafio de organizar e coordenar a realização da festa em 2018. Tapi tem o corpo franzino e disse que perdeu muitos quilos na preparação, na organização e até ficou doente, mas os parentes tocaram os trabalhos com a sua permissão. Ele não parou ao longo dos 3 dias de festas, aliás à mais de um ano na correria.  
Tapi recebe todos os convidados, parentes indígenas ou não indígenas convidados com muito carinho, de braços abertos e coração afetuoso, mas ninguém (dos não indígenas) tem a dimensão do trabalho para chegar até este momento da Festa. Em conversa pausada para atender um e outro que chega ele se lembra que foram mais de 3 meses de trabalho só pra construir a ONGAUHU - Casa Grande da Festa e que o planejamento de toda a festa leva mais de uma ano: tem que preparar roçado de macaxeira, de onde vai sair a MANDEGUI (farinha de macaxeira branca que será distribuída aos participantes para tomar com o caldo das caças no leite da castanha: o MINÃ. Da mesma forma é o preparo do sal tradicional extraído do palmito do tronco da palmeira Babaçu, após intenso processo de troca de conhecimentos no preparo. Ou ainda a coleta da Castanha do Brasil, que será fará parte da cerimônia de partilha, que junto com a MINÃ compõem o momento alto da Festa. Afirma porém, que tudo isso é realizado com apoio das outras aldeias do Povo, que se empenham conjuntamente.
Ainda para dar condições de abrigo para os convidados mais distantes, construíram a Casa da Cozinha, a Casa do Moquem onde a caça que chega do mato é entregue ao dono da festa e este por sua vez ao responsável pelo cuidado com os produtos para evitar se estraguem e com a necessidade de manter fogo de lenha diretamente acesso debaixo do jirau, expulsando as moscas.
Tapi manifesta-se dizendo que o maior desafio foi encarar a pouca idade, apenas 21, por ser jovem muitos não acreditavam que daria conta de coordenar, de ser o DONO da Festa, e que teve como exemplo seu avô KOAHÃ (já falecido), que também ainda jovem realizou a MBOTAWA. Ele nos diz que encarou para provar para os mais jovens que a cultura tradicional não pode morrer, porque os mais idosos estão morrendo e se eles não assumirem morrerão juntos. Afirma que o que mais lhe motiva na realização é que "isso é a força da cultura, vem da raíz e não pode deixar de fazer, porque é o momento de receber as famílias e fazer a partilha.
No dia 19 foi o momento da chegada dos caçadores com os resultados da caçada. Foram divididos em cinco grupos e cada um desses com suas subdivisões de trabalho: os caçam, os que pescam e os que preparam por meio de MOQUÉM as caças, de forma que elas moqueadas aguentarão várias dias até o retorno e a festa. Ao todo mais de 20 famílias participaram do puxirum/mutirão da caça/pesca, resultando em mais de 400kg de carne de diversos tipos de caça (anta, porcão, veado) e os peixes. Tapi explica que todos os momentos de preparação da MBOTAWA é uma grande escola para os mais jovens e novos, pois vão aprendendo todo o processo de preparação com os mais idosos: desde como se encontra a caça, a preparar o jirau e fazer o moquem, confecção do jamanxin de palha que será utilizado no transporte dos moquéns de caça e pesca. Em cada grupo tem o professor da cultura. 
No dia 20 logo cedo começam a chegar as demais aldeias e as rodas de danças e flautas tomam contam juntamente com cantos, podendo ser interpretada como uma "roda de diálogo cultural", composto pela IRERUÁ - flauta de taboca, onde as mulheres participarão, entretanto só podem escolher para dançar homens que sejam de clãs diferente do seu, ou seja Tarawé só pode dançar com Mutunaguera.
A pintura corporal ou a participação nas rodas de danças e flauta não é feita por todos. As pessoas especiais só poderão entrar em cena mediante liberação do chefe da família de clã diferente do seu, os quais lhe consideram especial por ter ajudado nos cuidados funerários de algum parente, porque clã trocado é que faz todo o processo, o que gera um cuidado maior do que recebeu o apoio, por isso durante a Festa tem um momento específico para este gesto de agradecimento.
Podemos perceber que esta é a "Festa do Cuidado", porque tudo é feito mediante troca de cuidados entre os clãs: a pintura corporal deve ser feita pelo chefe da família, podendo este passar responsabilidade para filho ou filha; caso outra pessoa do clã de fora da família o pinte, terá que ir se justificar com o chefe, pois quebrou a linha do cuidado de responsabilidade deste. No momento da alimentação por exemplo, quem é Mutum vai servir os Tarawé e vice-versa.
Cacique Duca me apresenta o Perembi - jabuti pequeno, diz que quando ele chega no pátio da aldeia vai ter bastante caça, pesca e festa. Os desenhos no casco do Perembi inspiram as pinturas corporais: parte do peito a pintura masculina e a parte do casco a pintura feminina, a qual é feita com amêndoa torrada do coco babaçu com óleo do mesmo, algumas pinturas duram dias, outras podem sair com facilidade no banho.
Cada abraço partilhado, cada roda de dança e flauta nos dá a certeza de que só a força da cultura pode manter um povo unido, mesmo tendo sofrido todo tipo de violências...o Bem Viver se faz nas pequenas coisas que se tornam grandes na vida do Povo Tenharim.
Breve retornaremos com a segunda parte desta narrativa do Bem Viver.