quarta-feira, 31 de julho de 2013

DIA 8 DE AGOSTO, 18 ANOS DO MASSACRE DE CORUMBIARA...JUSTIÇA!!!

O texto abaixo é apenas para refrescar nossa memória sobre o que ocorreu há 18 anos atrás na Fazenda Santa Elina - Corumbiara - Rondônia.


 
Massacre autorizado pelo governador RAUPP à época.
VIVA OS 18 ANOS DA HERÓICA RESISTÊNCIA CAMPONESA DE CORUMBIARA!
Mais de 600 famílias de camponeses foram mobilizadas para tomar a fazenda Santa Elina, com 18 mil hectares. Foi mais um dos 440 conflitos por terra que ocorreram no Brasil em 1995 e um dos 15 que aconteceram em Rondônia naquele ano. No dia 15 de julho as famílias entraram na área, a notícia se espalhou rapidamente e ganhou o apoio de pequenos e médios camponeses e dos comerciantes locais que contribuíram com alimento, remédios, roupas, ferramentas de trabalho e sementes.
Como sempre, a Justiça foi muito rápida em atender aos latifundiários. No dia 19 de julho já havia sido expedida a liminar de manutenção de posse e o capitão PM Vitório Regis Mena Mendes e trinta e cinco policiais acompanharam o oficial de justiça até o acampamento para fazer cumprir a ordem.
As investidas dos bandos armados de guaxebas foram todas derrotadas pela resistência camponesa e a situação começou a preocupar o governo do estado e os latifundiários. Os feitos dos camponeses corriam de boca em boca e o exemplo poderia se alastrar para outras áreas. A imprensa reacionária cuidava de denunciar estes feitos e exigia punição aos líderes e intervenção de tropas especiais. A Sociedade Rural, braço da União Democrática Ruralista (UDR), pressionava o governador exigindo o cumprimento da liminar e exigindo que o comandante da polícia fosse preso por omissão porque protelava o despejo.

 
Na época, o então governador Valdir Raupp (PMDB) foi o principal responsável por uma das páginas mais sangrentas da luta pela terra no Brasil, planejando e autorizando a ação genocida da Polícia Militar para exterminar a organização dos camponeses.

Para fazer cumprir a liminar de manutenção de posse, a polícia teve o financiamento dos latifundiários Antenor Duarte do Valle e Hélio Pereira de Morais (proprietário da fazenda). Eles forneceram homens, veículos, alimentação, transporte de tropas, munição, armas e até avião.

Na madrugada do dia 9 de agosto por volta das 3 horas, pistoleiros armados recrutados nas fazendas da região, usando fardamento da PM e rostos cobertos, iniciaram os ataques ao acampamento. Após horas de tiroteio, os camponeses não tinham mais munições para suas espingardas, quando entrou em cena o COE (Comando de Operações Especiais) sob o comando do capitão José Hélio Cysneiros Pachá, que utilizou de holofotes, bombas de gás lacrimogêneo que sufocavam a todos, todo tipo dearmamento pesado. Mulheres foram usadas como escudo humano pelos policiais e pelos guaxebas.
Camponeses foram torturados e executados sumariamente

Os camponeses resistiram heroicamente com paus, foices e espingardas de caça, o que garantiu que o massacrenão fosse maior. Já ao amanhecer do dia 9 de agosto, foram rendidos e teve inicio as humilhações, torturas, golpesde porretes nas cabeças, cortes com motosserra, chutes no rosto, nas costas e abdômen, espancamentos generalizados e execuções sumárias. Muitos foram obrigados a comer o próprio sangue misturado a terra e até mesmo pedaços de cérebro dos que tiveram suas cabeças esmagadas e partidas.

Durante todo dia 9, sob o sol escaldante, mais de 400 camponeses foram submetidos a mais torturas, insultos e humilhação e todo tipo de abusos. Outros foram obrigados, sempre sob mira de arma de fogo, a carregar os corpos para um caminhão. O jovem camponês Sérgio Rodrigues Gomes, com ferimentos de bala e de espancamentos foi retirado, em uma caminhonete da fazenda e seu corpo foi encontrado 14 dias depois às margens do rio Tanarú no município de Chupinguaia. Seu corpo foi dilacerado em vários dias de torturas e suplícios e seu rosto desfigurado tinha a marca de três tiros. Antes de ser levado à fazenda Sérgio foi torturado na presença do então vereador Percillo e do então prefeito de Corumbiara Arnaldo Carlos "Teco" da Silva.

Durante todo esse tempo os torturadores queriam saber dos camponeses quem eram os líderes e onde eles estavam. Isto equivale a dizer que aqueles que lideraram aquela tomada já haviam sido julgados e condenados sumariamente por quem organizou a ação repressiva.

A PM montou um verdadeiro campo de concentração nas proximidades do acampamento para onde os camponeses foram levados e mantidos presos. Durante todo dia 9, sob o sol escaldante, mais de 400 camponeses foram submetidos a mais torturas, insultos e humilhação e todo tipo de abusos na frente de suas mulheres e filhos.
O massacre foi uma ação planejada militarmente com o objetivo de espalhar terror entre as famílias de camponeses e assim paralisar as tomadas de terra do latifúndio na região.As torturas e maus tratos seguiram durante o transporte para a cidade de Colorado do Oeste, há cerca de 70 km do acampamento. Os camponeses feridos foram amontoados em caminhões e a ordem dada aos motoristas foi a de dirigir em alta velocidade e não respeitar os buracos da estrada. Cerca de setenta camponeses foram encaminhados à delegacia de polícia e centenas ficaram confinados no ginásio de esportes da cidade. Na delegacia, foram novamente espancados e torturados por policiais militares.

Oficialmente o Estado anunciou, como resultado de sua ação genocida, apenas 16 mortes (dois policiais e o restante camponeses entre os quais uma menina assassinada com tiro pelas costas, a pequena Vanessa de 7 anos). No entanto, além de pelo menos 7 desaparecidos e mais de 200 camponeses com graves sequelas físicas e psicológicas da violência, muitos feridos a bala continuam com elas encravadas no corpo até hoje. Cinquenta e cinco camponeses foram gravemente feridos. Em razão da chacina e toda a covarde selvageria policial, vários camponeses faleceram posteriormente.
O massacre foi uma ação planejada militarmente com o objetivo de espalhar terror entre as famílias de camponeses e assim paralisar as tomadas de terra do latifúndio na região. No entanto, ao contrário do que se esperava, a repressão sangrenta gerou enorme solidariedade e fez explodir o ódio das massas, levantando uma onda de novas tomadasde terra por todo o país. A resistência camponesa em Corumbiara foi o divisor de águas na luta pela terra no Brasil, após o gerenciamento militar, ao romper com toda a prática oportunista de negociações com órgãos do governo e traições aos camponeses. A heróica resistência camponesa de Santa Elina foi a mãe do movimento camponês de novo tipo no país, dando origem à Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental, posteriormente se unindo com outras lutas e se espalhando por todo o país.

A fazendo Santa Elina foi reocupada em 2008 pela Liga dos Camponeses Pobres e o CODEVISE (Comissão das vítimas de Santa Elina) e depois de novos despejos e muita luta, conseguiu a tão sonhada terra. A Fazenda foi desapropriada, cortada e entregue às famílias das vítimas e outras que ficaram vários anos acampadas na área.
A fazenda Santa Elina hoje tem o nome de um dos camponeses que lutaram e resistiram em 1995: Área Revolucionária Zé Bentão.
Muitos camponeses atualmente sofrem a ação do latifúndio: despejos violentos, perseguições, assassinatos, etc., mas resistem bravamente como os heróis de Santa Elina.



A BATALHA DE SANTA ELINA NUNCA SERÁ ESQUECIDA PELO POVO!!!
Terra para quem nela trabalha!! Viva a luta camponesa!

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