segunda-feira, 8 de julho de 2013

 
ADORMEÇE UM GUERREIRO GAVIÃO...MOISÉS!
 
 
Brasília, 07 de julho de 2013.

Hoje é um dia profundamente triste para o povo Gavião Ikólóehj. Um dos mais importantes líderes do povo, Moisés Seríhr, filho do grande Zavidjaj Xikov Pi Pòhv, deixou nossa companhia e partiu para o Garpi. Moisés foi uma presença constante e atuante em todos os momentos vividos pela comunidade, tanto no trabalho cotidiano quanto nas festas e no movimento indígena.
...Como guerreiro incansável, foi um exemplo para o povo Gavião Ikólóehj, especialmente para os mais jovens, nas lutas do povo contra as invasões, contra as barragens, contra os projetos de mineração e nas reivindicações por melhorias na educação escolar indígena, no atendimento de saúde, na proteção e na gestão sustentável da terra indígena. Sobre o futuro de seu povo, Moisés Seríhr constantemente mostrava preocupação com os recursos naturais da Terra Indígena Igarapé Lourdes e refletia sobre a importância de cuidar destes recursos para que não faltasse para as novas gerações.
Sempre presente no movimento indígena, nunca se negou a participar das lutas, desde reuniões locais da educação, da saúde, da Padereéhj até encontros estaduais e nacionais para discutir temas relacionados à política indigenista do Estado brasileiro. Lá estava ele, firme e atuante. Com isso proporcionava aos líderes mais jovens e a todo povo indígena, não só Gavião Ikólóehj, a força necessária para seguirem adiante na luta.
Pessoalmente, sinto muito sua partida, pois foi Moisés e sua família que me acolheram quando realizei minha pesquisa sobre a coleta de castanha. Era sua vontade ir para as cabeceiras do Igarapé Madeirinha, onde nasceu e passou parte de sua infância, para coletar castanha. Naquele lugar, ao longo de duas semanas tive o privilégio de conviver mais de perto com este guerreiro de valor. Como mestre e professor que era, ensinou os jovens do grupo a melhor forma de retirar envira das árvores, a maneira mais eficiente de cortar os ouriços de castanha, como encontrar mel no mato, como andar para não afugentar a caça, entre muitos outros ensinamentos. Admirei sua força e tenacidade ao vê-lo transportando imensos sacos de castanha nas costas com o bom humor que sempre o acompanhava. Nas noites, após os dias árduos de trabalho, Moisés encontrava ânimo para contar histórias e alegrar a todos no tapiri. Contou sobre sua infância ali no Madeirinha, como sua mãe havia sido flechada em um ataque dos Zoró, inimigos na época. Em outro momento lembrou quando alguém da família havia sido picado por uma cobra e ele empreendeu uma caminhada de mais de 5 horas até a aldeia Igarapé Lourdes para buscar remédio retornando ao final do mesmo dia. Em outra oportunidade lembrou como foi morar com os seringueiros e aprendeu a tirar borracha, mas não suportou a saudade e voltou para a maloca de seu pai. Aquele local cheio de histórias era parte de sua vida e Moisés tinha esperança de que aquela terra fosse incorporada à Terra Indígena Igarapé Lourdes.
Exemplo, líder, guerreiro, mestre, várias são as qualidades que fizeram este homem ser admirado por todos, não somente pelo seu povo, mas também pelos parentes de outras etnias e por todos parceiros que aprenderam a admirar seus gestos, suas ações, suas palavras, seu caráter. Sentiremos muita falta do Moisés e nos solidarizamos neste momento de dor com sua família e com todo o Povo Gavião Ikólóehj.
Com profundo respeito

 autor desconhecido, que subscrevo seu registro

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