quarta-feira, 29 de julho de 2009

MALÁRIA E HIDRELÉTRICAS... DE BRAÇOS DADOS EM RONDÔNIA...

Estudo revela que hidrelétricas em RO podem gerar epidemia de malária

Luciana Abade, Jornal do Brasil, 27 de julho de 2009

BRASÍLIA - A chegada de centenas de pessoas para trabalharem nas obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, localizadas no Rio Madeira, nas proximidades de Porto Velho (RO), pode acarretar uma epidemia de malária se as condições sanitárias precárias do município, principalmente da área rural, não melhorarem. É o que diz o estudo Malária e aspectos hematológicos em moradores da área de influência dos futuros reservatórios das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, publicado pela Cadernos de Saúde Pública, da Fiocruz.

“A associação do episódio de malária com as precárias condições sanitárias das moradias, escassos recursos financeiros e alimentação deficiente em micronutrientes fundamentais pode estar contribuindo para esse quadro anêmico da população. Sendo assim, necessita de uma atenção especial dos programas de saúde pública”, detalha o documento.

Para os pesquisadores do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais, experiências de construção de usinas hidrelétricas em outros países da América do Sul que causaram epidemias de malária sugerem que se as condições atuais de saneamento e serviços públicos de saúde oferecidos à população não sofreram uma profunda reestruturação tanto física quanto humana, os riscos de uma epidemia de malária no Brasil aumentarão consideravelmente.

Ações preventivas

A pesquisa, realizada em 2006, época em que estava sendo feito o estudo dos impactos ambientais das obras, analisou as áreas localizadas entre o bairro de Santo Antônio, na periferia de Porto Velho, ao distrito de Abunã, distante cerca de 210 Km da sede do município. Rondônia faz parte dos nove estados que formam a Amazônia Legal e que juntos são responsáveis por cerca de 99% dos casos de malária.

Segundo um dos autores do estudo, Tony Hiroshi Katsuragawa, um dos maiores problemas é a presença de malária assintomática: muitos moradores das comunidades ribeirinhas da região não apresentam os sintomas, mas são reservatórios da doença e, uma vez picadas pelo mosquito vetor, transmitem a doença. Por isso, as 432 pessoas que tiveram o sangue recolhido para o diagnóstico são acompanhas até hoje pelo grupo de pesquisadores. O resultado do acompanhamento, de acordo com Katsuragawa, tem sido positivo na comunidade de Cachoeira do Teotônio.

A pesquisa reconhece que a construção de barragens para a implantação de usinas hidrelétricas é uma necessidade para o desenvolvimento de uma região pelos novos investimentos que a oferta de energia elétrica. E reforça que se as autoridades locais de saúde intensificarem as ações do Programa Nacional de Controle da Malária do Ministério da Saúde, é possível que o desenvolvimento industrial e energético da região tragam um impacto mínimo na saúde pública.

A Região Norte é rica em recursos hídricos. No estado de Rondônia, estão planejadas seis usinas hidrelétricas no Rio Madeira. Segundo o estudo, o potencial hidroenergético do Brasil é de 260 GW, dos quais apenas 25% são usados para a produção de energia pelas hidrelétricas.

Polêmica

As hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau foram alvo de polêmica no ano passado. O consórcio liderado por Furnas e Odebrecht, vencedor do leilão da usina de Santo Antônio, contestou a vitória do consórcio liderado pela Suez, que conseguiu o direito de construir Jirau mas, depois de vencer a disputa, anunciou que deslocaria o local da usina em nove quilômetros. A falta de entendimento passou para as acusações judiciais. E a licença, de apenas seis meses, foi aprovada no final do ano passado.

Os ambientalistas também travaram acirrados debates com o governo na época do licencimento das hidrelétricas. Eles argumentavam que o alagamento de grandes áreas na região causaria impactos violentos na floresta e desequilibraria todo o ecossistema amazônico. Prejudicaria também os habitantes que vivem dos recursos da floresta. Atualmente, o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) está coletando semanalmente dados de turbidez do Rio Madeira, ou seja, medindo a resistência da água à passagem da luz e identificando a quantidade de resíduos suspensos. O objetivo é monitorar os possíveis impactos que as construções das hidrelétricas podem trazer para o rio.

Cerca de 530 quilômetros quadrados serão inundados pelos reservatórios de Jirau e Santo Antônio. Estima-se que pelos menos cinco mil pessoas terão suas vidas afetadas direta ou indiretamente pelas obras.

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