
Glenn Switkes, um guerreiro amazônicoAltino Machado às 6:36 am
POR GERHARD DILGER
O Glenn já está em paz.
Na madrugada desta segunda-feira, à 1h30, o norte-americano Glenn Switkes morreu em São Paulo, de um câncer nos pulmões. Glenn, 58, era cineasta e diretor do programa Amazônia da ONG International Rivers.
Em 1983, Glenn foi co-produtor do documentário “The Four Corners - A National Sacrifice Area?”, sobre a mineração de urânio e carvão assim como a extração de óleo de rochas betuminosas, em áreas dos indígenas Hopi e Navajo.
Neste trabalho premiado, Glenn Switkes já mostrou o compromisso que marcaria sua vida: ele era um aliado incondicional das comunidades ameaçadas pelo modelo de crescimento predador que está acabando com nosso planeta.
Com Monti Aguirre, ele fez o documentário “Amazonia: Voices From the Rainforest” (1991), considerado pelo Washington Post como uma “advertência global sutil”.
- Permite que muitas vozes sejam ouvidas, não somente os explorados e os exploradores mas, com mais sutileza e maior eloqüência, a floresta amazônica em si - assinalou o jornal.
Este filme foi apoiado pela Rainforest Action Network, para a qual Glenn coordenou a campanha contra a exploração de petróleo na Amazônia Ocidental, antes de entrar na International Rivers, em 1994.
Na sua primeira luta no Brasil, Glenn se dedicou a articular a resistência contra a hidrovia Paraguai-Paraná. Sua base de trabalho foi a Chapada dos Guimarães onde ele morava com a esposa Selma.
Desde estão, trabalhava incansavelmente contra a construção de barragens na Amazônia e Patagônia Chilena, pesquisando, articulando e mobilizando apoio para as comunidades atingidas.
Em 2002, nasceu o filho Gabriel.
Imune às vaidades comuns no circuito das ONGs ou do jornalismo, Glenn continuava organizando e educando, com muita determinação e paciência.
Com clareza, analisou as contradições da política energética do governo Lula.
As suas grandes batalhas dos últimos anos eram a favor dos rios Madeira e Xingu, afluentes do Amazonas ameaçados pelas megabarragens de Jirau e Santo Antônio e Belo Monte.
Também alertou sobre a série de hidrelétricas planejadas no rio Tapajós.
Como os Kayapó que admirava, Glenn era um guerreiro amazônico. Bem consciente da correlação de forças adversas nas lutas que estava travando junto a seus companheiros e companheiras, ele renovava as energias no seu lar paulistano, com Selma e Gabo, no campo, em Minas, na música e na culinária.
No seu blog, Glenn mostrava o seu humor ácido. Ou doce, quando imaginou Bob Dylan tocando “Watching the River Flow” numa aldeia indígena no beira do rio Xingu.
Glenn, quanta falta você está fazendo!
♦ O jornalista alemão Gerhard Dilger é correspondente na América do Sul do diário berlinense “taz, die tageszeitung”.
Fotos: Gerhard Dilger e Altino Machado
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