Manifestação do Movimento dos Sem Terra (MST) a favor da reforma agrária foi reprimida de forma violenta e desproporcionada pela Polícia Federal e Polícia Militar, ontem em Ji Paraná, Rondônia.
NOTA DO MST DENUNCIA VIOLÊNCIA POLICIAL...
Alinhados à mobilização nacional de trabalhadores e trabalhadoras do Movimento Sem Terra (MST) que alcançou dezoito estados em protestos contra o ajuste fiscal do governo no orçamento da reforma agrária, na manhã do dia 3 de agosto de 2015 cerca de 400 militantes do MST vindos de diferentes acampamentos e assentamentos de Rondônia ocuparam o INCRA de Ji-Paraná e depois seguiram para o escritório da Receita Federal no município.
A ocupação desta autarquia do Ministério da Fazenda, o responsável pelo corte de quase 50% dos recursos da Reforma Agrária (de R$ 3,5 bilhões restaram apenas R$ 1,8 bilhão), tinha por objetivo chamar a atenção da população e do Estado para as graves consequências do ajuste fiscal neste momento de crise econômica. Vistorias e outros procedimentos técnicos vinculados à reforma agrária, além de programas de moradia e financiamento da produção estão inviabilizados pelos cortes. Diferente do que a mídia local vem mostrando, não se tratou de uma ação CONTRA os servidores da Receita e sim de uma ocupação simbólica do Ministério da Fazenda.
Durante o ato, uma das portas de acesso ao prédio da Receita foi quebrada, assustando os servidores que se encontravam em expediente interno. O excesso foi reconhecido pelo movimento, que, em negociação com a Receita Federal e a Polícia Militar, comprometeu-se a ressarcir o prejuízo material (resolvido no mesmo dia, na parte da tarde) e a desocupar o espaço depois de certo tempo, pois seguiriam em marcha para o INCRA, onde havia uma pauta de reivindicações a ser discutida. Dentro da Receita, seguiram entoando cantos e palavras de ordem, como se faz comumente nas ações do MST.
Daí a surpresa com a chegada da Polícia Federal, que antes mesmo de travar qualquer tentativa de negociação, lançou sobre os manifestantes, muitos deles crianças e idosos, bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha (ver 0’10”, 2’39” no vídeo). Um companheiro foi atropelado por uma viatura policial, fraturando a perna, e outro foi ferido a bala. Ambos só puderam ter atendimento médico horas depois da dispersão do ato. Impedidos de entrar nos ônibus, crianças e feridos seguiram a pé até o INCRA.
A desproporção da reação policial, muitos à paisana (ver 2’17” no vídeo), que a todo momento apontava armas letais (ver 0’59” e 2’38” no vídeo) para os manifestantes, é evidenciada pelos vídeos registrados no momento do confronto (ver 0’16” no vídeo). Quatro militantes foram presos e outros apreendidos como testemunhas em abordagens agressivas (ver 4’09” 5’03” no vídeo). Liberados sob fiança, dois deles responderão por tentativa de homicídio por, supostamente, atentarem contra a vida dos policiais ao atirarem pedras e empunharem mastros de bandeira, defendendo-se de suas investidas. Na fértil imaginação policial, facões e foices, instrumentos de trabalho e símbolos da luta camponesa consagrados como “ícones da vitória” na famosa fotografia de Sebastião Salgado, transformaram-se em perigosas armas.
Diante do crescente cenário de criminalização das diferentes formas de protesto social e dos movimentos sociais, repudiamos a violência policial e reafirmamos nosso compromisso de seguir firme na luta por reforma agrária e por uma vida digna no campo.
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra de Rondônia.
[1] Consultar vídeo: “Repressão contra sem terra em Rondônia" https://www.youtube.com/watch? v=jU0RQPyuICo
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