ENTRE CHEIAS E INUNDAÇÕES ÀS MARGENS DO RIO MADEIRA...
As populações da Panamazônia vivem às
margens de rios que lhes garante vida e ao mesmo tempo os desbarranca, por
influências das inundações causadas pelas intervenções nos rios que os banha.
Como enfrentar as mudanças climáticas decorrentes e viver à margem de seus
direitos essenciais?
No rio Madeira, maior afluente do rio das
Amazonas, o Governo Federal leva à cabo um projeto de construção de
hidrelétricas e hidrovias para produzir energias em favor do grande capital.
Aqui se encontram algumas empresas
públicas e privadas, nacionais e transnacionais tais como: Furnas, Odebrechet,
Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Suez Tractbel, Siemens, Alstom, Votorantim,
Sanden, Taboca, Fundos de Previdência, BNDES, Itaú, Bradesco, Eletrobrás, HSBC,
que atuam nas ações de financiamento, construção de linhão de transmissão,
obras de engenharia, fornecimento de turbinas entre outras.
Chegaram com a promessa de que resolveriam
os problemas da região com estas obras, que gerariam milhares de empregos
diretos e indiretos, que seriam a solução para os problemas porque gerariam
muitas divisas, grana para os administradores local, estadual e nacional,
capitaneados pelo PAC - Programa de Aceleração do Crescimento do Governo
Federal, alicerçado na lei da PPP - Parceria Público Privada, com total apoio
da EPE - Empresa de Planejamento Energético e da ANEEL - Agência Nacional de
Energia Elétrica, ávidos por alimentar seus cofres com as porcentagens que lhe
caberia com a viabilidade destes empreendimentos e com isso afastando o "fantasma
do apagão".
Porém, para as populações regionais, já
fragilizadas em seus direitos foi o que aconteceu: "apagão de
direitos". Estas populações indígenas, extrativistas, pescadores,
ribeirinhos, periurbanas sequer tiveram o direito de dizer não, porque lhe foi
extraído o apoio às obras a partir de promessas de que lhes designariam
projetos: posto de saúde, poço artesiano, equipamentos para produção, centro
cultural entre outros, o que lhes era de direito, negado pela ausência ou
negligência das políticas publicas.
O conhecimento tradicional foi negado nos
estudos. O conhecimento técnico do estranho técnico, que adentrou os espaços
individuais ou coletivos, perfurando, medindo, desmatando é o que fundamentou
os relatórios e os chamados estudos de impacto ambiental, que o Ibama numa
segunda rodada, é forçado a dar parecer por sua aprovação apesar das lacunas.
A intervenção é feita no rio Madeira,
exterminando com a construção das ensecadeiras mais de 20 toneladas de peixes,
os quais almejavam subir para reprodução, mas tiveram o triste fim: a morte,
assim como os que deles dependiam para sua segurança alimentar, nutricional e
geração de renda. Apesar de afirmarem nos estudos que exterminariam 50% do
pescado existente, logo após segundo ano de obras as populações da região
afirmam que reduziu em mais de 70% a oferta do peixe ou seja, o peixe sumiu...
Desmatamento, sepultamento de árvores,
queima de outras, morte de peixes rio à cima com a formação dos lagos,
expropriação territorial de milhares de pessoas, de famílias é a marca destas
obras, ao passo que as empresas envolvidas receberam certificado pela produção
de "energia limpa" com toda esta sujeira.
O conhecimento tradicional negado pelos
relatórios técnicos de empresas conceituadas perante os órgãos de
licenciamento, é o que organizou a vida e a ocupação secular de povos e
comunidades. Todos estes são categóricos em afirmar que nunca antes tinham
visto tamanha destruição pós-enchentes de 2014.
Antes planejavam suas vidas: social, cultural e econômica
dialogando com a natureza que os cercava. Para saber se no inverno amazônico,
período de chuvas, iria ter ou não cheias,
no último dia de cada ano e no primeiro dia do ano novo colhiam um litro de
água em cada dia e pesavam a mesma, que diante do peso devido a quantidade de
sedimento contida na água, sabiam o que enfrentariam pela frente e se preciso
fosse subiam ainda mais as residências, colhiam antes a castanha e outros
produtos que lhes garantiam segurança alimentar e geração de renda. As cheias tinham prazos para iniciar e
terminar, não comprometendo suas vidas, ao contrário, depositava nas praias e
áreas alagadas sedimentos que fertilizavam e produziam em abundância melancia,
melão, maxixe, feijão de praia, cheiro verde... Mas, para que serve isso diante
dos altos custos das horas de consultorias científicas e pilhas de documentos.
Porém, com as intervenções no rio Madeira, seu barramento com
formação de lagos, que dentro de um planejamento de médio e longo prazo pelo
Ministério da Integração Regional está a construção de uma hidrovia para escoar
soja do cerrado brasileiro e boliviano, provocou no ano de 2014 a maior inundação jamais vista, também
apelidada de cheia atípica, que durou mais de três meses, provocando a morte e
contaminação de toda forma de vida antes ali existente.
Na grande bacia hidrográfica do rio Madeira, conectado com os rios
Abunã, Madre Dios, Beni, Mamoré, Guaporé e tributários menores o que se viu foi
destruição e morte de pessoas, animais, peixes, produção e vegetação gerando
insegurança alimentar, nutricional e desagregação social... Os barrancos não
suportaram a carga d´água e se transformaram em sedimentos rio à baixo e rio à
cima dos barramentos nas cachoeiras de Santo Antônio e Jirau.
A insegurança continua já que o rio Madeira está com seu leito
mais raso com a grande sedimentação em toda sua dimensão, reafirmando o que o
hidrólogo Jorge Molina já previu em estudos antes mesmo do inicio das obras,
dessa forma não precisará de grandes chuvas para provocar novas inundações, que
se tornarão um pesadelo anualmente e junto com ela toda forma de contaminação
das águas com elevação do lençol freático, dos peixes, desestruturação social e
ecológica entre outros e quem pagará esta conta com suas vidas são principalmente
os povos e comunidades deixadas às margens desse tal desenvolvimento,
desbarrancadas em seus direitos essenciais entre
cheias e inundações enquanto as empresas lucrarão bilhões em novas obras como
esta e por sua vez financiarão campanhas de políticos que os defenda...BASTA desse modelo agro-hidro-exportador de matéria primas às custas de Vidas amazônidas!
Cheias, Rios e Águas conduzem e produzem Vida. Inundação é sinal de Morte. NÃO as
Barragens nos rios da Panamazônia! Sim à VIDA!
Um comentário:
Parabéns pelo texto. Pertinente e necessário.
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