quarta-feira, 25 de abril de 2012

CONTRIBUIÇÕES À LUTA... ABRIL INDÍGENA 2012 EM RO

Artigo: “Nós existimos e continuaremos a lutar por nossos Direitos”!
Iremar Antonio Ferreira
No último dia 13 de abril, uma sexta feira, ao encerrar uma grande assembleia, o Abril Indígena de RO, o Movimento e Organização Indígena de Rondônia, Noroeste de Mato Grosso e Sul do Amazonas apresentou à sociedade rondoniense em ato político e cultural na praça do palácio do Governo e de modo particular ao Ministério Público Federal um documento intitulado “MAIS DE 5OO ANOS DE HISTÓRIAS, RESISTÊNCIAS E LUTAS!”.
Participaram dos debates e da elaboração deste os povos Canoé, Puruborá, Suruí, Wayoró, Djeoromitxí, Aruá, Aikanã, Tupari, Kassupá, Diahoí, Sabanê, Negarotê, Mamaindê, Karitiana, Arara, Gavião, Kwazá, Wãniam (Migueleno), Oro Waram, Oro Mon, Oro Waram Xijein, Zoró, Oro Eo, Oro Nao´, Cao Oro Waje, Kithaulu, Nambikwara, Karipuna e Salamãi.
Na atenção à Saúde indígena afirmam que em tese os Distritos Especiais em Saúde Indígena (DSEIs) de Porto Velho e de Cacoal têm autonomia administrativa e financeira, mas na prática, a Secretária Especial de Saúde Indígena (SESAI) não está repassando recursos para que os DSEIs possa fazer um melhor atendimento às Casas de Saúde Indígenas (CASAIs) e nas Comunidades Indígenas o que ocasionado que vai desde precariedade e ausência total de condições de funcionamento de algumas CASAIs por falta de leito, medicação, transportes, estrutura física e alimentação, expondo pacientes à condições sub-humanas. Segundo lideranças “esta omissão e inoperância da SESAI está causando mortes por doenças totalmente preveníveis e tratáveis como a gripe, diarréia, reumatismo e tuberculose” que entre o Povo Suruí, da região de Cacoal, já atinge mais de 170 pessoas e mais de 50 suspeitos de TB sem realização de exames para identificar.
Henrique Yabadai Suruí foi taxativo “o governo tá contribuindo para nova epidemia em nosso povo como do tempo da construção da BR 364 e chegada dos colonos... meu povo tá com epidemia de TB e não tem ação firme da saúde indígena para evitar que mais gente nossa e de outros povos sejam infectados na aldeia e na CASAI, isso é um extermínio silencioso de nosso Povo e o Ministério da Saúde precisa urgentemente fazer alguma coisa antes que seja tarde, ou será denunciado por omissão e matança de nosso Povo. Fazem muita politicagem com o nome de nosso povo, mas pouco fazem pra ajudar” afirma.
Lideranças de Povos da região de Guajará Mirim denunciam a “irresponsabilidade da SESAI no diagnóstico, tratamento e monitoramento das Hepatites, que vem ocorrendo de forma alarmante na região de Guajará-Mirim e em outras regiões do estado tem provocado morte de crianças e idosos”. Este fato alia-se à “falta de formação especifica de profissionais da saúde indígena, que agem com discriminação e humilhação aos pacientes e acompanhantes indígenas em alguns pólos bases” afirma Cristina Oro Bom. Para o Movimento Indígena a “deficiência de gestão administrativa dos DSEIs resulta na péssima administração dos Pólos Base de saúde; na demora no agendamento das consultas; no tratamento em clínicas particulares com preços abusivos; na terceirização de serviços e contratação de profissionais de saúde sem compromisso com os povos gerando discriminação e descontentamento das comunidades.
No tocante à Educação Escolar Indígena exigiram “participação dos povos indígenas na elaboração e execução da política de educação escolar indígena no Estado de RO (gestão das ações e no controle social) o que não tem acontecido, apesar das promessas de campanha do atual governo. Exigem, por exemplo, “a criação e instalação imediata do Conselho de Educação Escolar Indígena de Rondônia de acordo com a proposta dos Povos Indígenas bem como a criação de uma Gerência de Educação Escolar Indígena, para garantir de fato o direito à Educação Escolar especifica e diferenciada; a realização de concurso público, específico e diferenciado, para professores indígenas e quadro administrativo para as escolas indígenas do Estado de Rondônia, de acordo o que preconiza a lei complementar nº 578 de primeiro de junho de 2010.
Para as lideranças é urgente “a regularização das Escolas Indígenas considerando suas especificidades bem como a implantação do Projeto do Sexto ao Nono ano e ensino médio em todas as Escolas Indígenas, para evitar a migração de famílias e estudantes para os centros urbanos e a discriminação que sofrem os indígenas, com a construção de escolas indígenas adaptadas à realidade local, com estrutura física que garanta seu bom funcionamento além da reestruturação dos setores pedagógicos das coordenações de Educação Escolar Indígena nos municípios e a realização de seminários pedagógicos envolvendo professores e lideranças indígenas, coordenações de educação escolar indígena dos municípios, Núcleo de Educação Escolar Indígena de Rondônia (NEIRO) e Organização dos Professores Indígenas de RO (OPIRON)”.
Defendem que para “de fato e de direito ocorrer a implantação da educação escolar indígena tem que ser participativa, envolvendo coordenações de educação escolar indígena dos municípios, Núcleo de Educação Escolar Indígena de Rondônia (NEIRO) e Organização dos Professores Indígenas de RO (OPIRON)”.

Ao tratarem da temática Terra, os discursos de descontentamento pelas tentativas de violar Direitos Constitucionais soam em tom de guerra em repúdio ao Projeto de Emenda Constitucional n° 215/2000 que quer transferir para o Congresso Nacional a competência de demarcação das terras indígena, bem como todas as demais propostas que venham ameaçar nossos direitos conquistados por nossa luta na Constituição Federal de 1988.
Héliton Gavião pintado pra gerra afirma: “estamos indignados com a manobra do Congresso Nacional que quer a todo custo violar nossos direitos, rasgando a atual Constituição Federal e os Acordos Internacionais a exemplo da Convenção 169 da OIT, ficando claro que defendem interesses pessoais e particulares em prejuízo do interesse público e coletivo”.
Já para Antenor Karitiana “enquanto o projeto de Lei do Novo Estatuto dos Povos Indígenas está engavetado a mais de 20 anos, deputados contrários aos nossos direitos propõem a aprovação em separado do Projeto de Lei de Mineração em Terras Indígenas que sempre nos manifestamos contrários a esta manobra. Exigimos que seja colocado em pauta, em regime de urgência o Projeto de Lei do nosso Novo Estatuto, de acordo com a proposta da Comissão Nacional de Política Indigenista”.
Renato Nambiquara de cocar, colares e óculos escuro, no estilo Raoni afirma que: “enquanto o Congresso Nacional tenta violar nossos direitos constitucionais, mais de 20 terras indígenas em RO ainda não foram regularizadas, colocando nossos Povos em situação de risco e de insegurança física e cultural a exemplo dos Puruborá, Wãniam (Migueleno), Kassupá, Wayaró, Cujubim e Djeoromitxí.
Eva Kanoé é enfática ao afirmar: “exigimos proteção imediata e regularização das terras dos mais de dez povos indígenas livres em isolamento e risco de extinção que, por falta de proteção física, cultural e territorial, correm risco de extinção e exigimos a proteção imediata às lideranças indígenas que vem sofrendo ameaças de morte por conta da luta pela terra.
Lamentavelmente são muitos os clamores e denúncias como a da recente invasão de madeireiros na TI Uru-Eu Wau Wau na qual o Movimento Indígena exige a urgência intervenção da FUNAI e Policia Federal a fim punir esses invasores. No tocante à construção de obras de infraestrutura dentro de territórios tradicionais de povos indígenas denunciam que o Povo Aikanã perdeu seu cemitério - território sagrado, violado com a construção de estrada, ponte e estacionamento de projeto turístico nas margens do rio Pimenta município de Chupinguaia. Além disso, com a construção da pequena central hidrelétrica – PCH do Cascata, afluente do rio Pimenta, destruiu e alagou outro cemitério antigo deste povo.
De arco, flecha, borduna e a Constituição Federal na mão declararam: “exigimos um basta a esses grandes empreendimentos patrocinados pelo governo através do PAC que afetam diretamente nossas vidas e nossos territórios, a exemplo das UHEs Santo Antonio e Jirau, Tabajara, Ribeirão, PCHs, ferrovia Centro – Oeste e repudiamos a mercantilização das terras indígenas com os projetos de REDD (crédito de carbono) e exigimos cancelamento destes contratos assinados por lideranças à revelia das comunidades, que tem provocado conflitos internos e entre povos, devido a ausência total de políticas públicas do Estado brasileiro que não promove melhorias na qualidade de vida e na defesa dos Direitos”.
E para concluir, no intuito de separar o joio do trigo foram enfáticos: “denunciamos toda e qualquer ONG e empresas privadas, que em nome de povos indígenas, fazem acordos e projetos que vão contra os nossos interesses e ferem nossos direitos sociais, ambientais e culturais”.
Diante de toda esta conjuntura de reivindicação que expõe as fragilidades e ausências de políticas públicas na promoção de Direitos essenciais na geração de qualidade e manutenção de Vidas, urge um reposicionamento da Política Indigenista que até hoje não avançou mesmo com a criação da Comissão de Política Indigenista que deveria ter sido alçada à Conselho e assim de fato e de direito ter atuação incisiva, mas parece que não há vontade política de fazê-la e só depende de decreto presidencial. Onde está o cerne da questão¿
Resta aos Povos Indígenas do Brasil ocuparem as praças para reivindicar Direitos básicos que é dever do Estado ofertar, enquanto isso fica desguarnecido os rios, os lagos, as florestas que ainda restam... Terão mais 500 anos de História, Resistência e Luta ou sucumbirão na nova ordem da “economia verde”!¿

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