sexta-feira, 1 de outubro de 2010

DOM ERWIN - RECONHECIMENTO DA LUTA INCANSÁVEL EM DEFESA DO XINGÚ

Dom Erwin Kräutler recebe prêmio nobel alternativo - 30/09/2010

Local: Brasília - DF
Fonte: Cimi - Conselho Indigenista Missionário
Link: http://www.cimi.org.br/ http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=368164

Dom Erwin Kräutler é um dos quatro ganhadores do Prêmio Right Livelihood 2010, um prêmio Nobel Alternativo, que honra o poder de mudança nas bases. A entidade publicou a informação nesta quinta-feira (30). Segundo os organizadores, dom Erwin recebeu este prêmio "por uma vida dedicada ao trabalho com direitos humanos e ambientais dos povos indígenas, e por seu incansável esforço para salvar a Amazônia da destruição", diz a indicação do prêmio.

Para dom Erwin, a alegria de receber o prêmio é muito grande. “Não estou feliz em meu nome, mas por causa da Amazônia e dos povos indígenas que merecem esse reconhecimento!”, declarou.

Os outros premiados foram a organização israelense "Médicos para os Direitos Humanos-Israel", que atua em seu próprio país e na Palestina, o nigeriano Nnimmo Bassey, de 52 anos, que "revelou os horrores ecológicos e humanos da produção del petróleo", e o nepalês Shrikrishna Upadhyay, de 65 anos, em conjunto com a organização Sappros, que "trabalham contra as múltiplas causas da pobreza", segundo o júri.

A coletiva de imprensa com os laureados de 2010 será realizada no Centro de Imprensa do Ministério das Relações Exteriores da Suécia, em Estocolmo, no dia 6 de dezembro, às 9h30 (horário da Suécia). A Cerimônia de Premiação no Parlamento sueco será realizada no mesmo dia, às 18h.

A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) havia encaminhado uma carta à fundação Right Livelihood Award ratificando a indicação do nome do bispo da prelazia do Xingu (PA), dom Erwin Kräutler, para o prêmio Nobel Alternativo dos Direitos Humanos em fevereiro deste ano. De acordo com a CNBB, a indicação é um gesto de reconhecimento à atuação “pastoral e profética” de dom Erwin “junto aos mais fracos e aos povos indígenas”.

Para o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, esse prêmio é uma grande homenagem a dom Erwin e também honra muito a própria CNBB. “É um reconhecimento das instituições e da própria sociedade brasileira e para mim tem até uma significância maior, justamente por ser um Nobel Alternativo!”. Para dom Geraldo, é o reconhecimento da grande luta de dom Erwin na defesa da vida dos povos indígenas e da própria dignidade humana destes povos. “Dom Helder Câmara também recebeu esse prêmio na época em que vivíamos no regime ditatorial no Brasil, quando lhe foi negado o Prêmio Nobel da Paz. E agora, dom Erwin recebe esse mesmo prêmio! Quero parabenizar dom Erwin e também a nossa própria igreja, por ter em seu meio um lutador pela justiça social, pelo meio ambiente e pela vida dos povos indígenas!”, declarou.

Uma vida pela vida

Dom Erwin Kräutler nasceu na Áustria em 1939, tornou-se padre em 1964 e logo após foi para o Brasil como missionário. Em 1978, tornou-se um cidadão brasileiro (embora também mantendo a sua cidadania austríaca). Ele trabalhou entre os povos do Xingu, que inclue povos indígenas de diferentes etnias. Em 1980, dom Erwin foi nomeado bispo do Xingu, a maior diocese do Brasil. Entre 1983-1991, e desde 2006 é o presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), entidade vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O trabalho de dom Erwin é guiado pelos ensinamentos da teologia da libertação. Ele ensina que um cristão tem que ficar do lado dos fracos e se opor a seus exploradores.

Pelos direitos dos povos indígenas

Durante cinco séculos, a população indígena do Brasil diminuiu fortemente - e a tendência de queda continua. Hoje as causas são bem conhecidas e documentadas, incluindo a violência direta (mas raramente investigada) em conexão com a apropriação de terras indígenas, grilagem de terras para a energia, mineração, indústria, agronegócio e projetos militares.

Durante a presidência de dom Erwin Kräutler, o Cimi passou a ser um dos mais importantes defensores dos direitos indígenas, com foco em direitos à terra, a auto-organização e cuidados com a saúde em territórios indígenas. Em 1988, o intenso lobby do Cimi colaborou para a inclusão dos direitos dos povos indígenas na Constituição Brasileira. O Conselho também elevou a consciência dentro da Igreja sobre os povos indígenas e seus direitos.

Desde 1992, além do trabalho com o Cimi, Kräutler tem continuado a trabalhar incansavelmente em defesa do Xingu. Os projetos que ele iniciou incluem a construção de casas para os pobres, funcionamento das escolas, a construção de uma instalação para as mães, grávidas, mulheres e crianças, fundando um "refúgio" para a recuperação após o tratamento hospitalar, ajuda de emergência, apoio jurídico e trabalhos sobre os direitos dos agricultores e demarcação de terras indígenas.

Contra Belo Monte

Por 30 anos, Kräutler tem sido muito ativo na luta contra os planos da enorme barragem de Belo Monte no rio Xingu, hoje fortemente promovida pelo Presidente Lula, que pode ser a terceira maior barragem do mundo. A represa pode destruir 1000 km quadrados de floresta, inundando um terço de Altamira (PA) e criando um lago de água estagnada, infestada de mosquitos nos cerca de 500 km², o que torna a vida no resto da cidade, muito difícil. Cerca de 30.000 pessoas teriam que ser realocados.

Ameaças

O compromisso e a franqueza de dom Erwin colocam sua vida em risco constante. Em outubro de 1987, alguns meses antes da decisão de concessão de plenos direitos civis para os povos indígenas na assembleia constituinte, ele ficou gravemente ferido em um acidente de carro provavelmente planejado. Desde 2006, Kräutler está sob proteção policial, em parte porque ele insistiu em uma investigação após o assassinato do ativista ambiental Irmã Dorothy Stang, em 2005, que, desde 1982, tem trabalhado ao lado de dom Erwin. Mais recentemente, ele recebeu ameaças de morte por causa de sua oposição à barragem de Belo Monte e porque tomou medidas legais contra um grupo criminoso envolvido em abusos sexuais de menores em Altamira.

Prêmios e livros

Em 1989, Kräutler recebeu o Grosser Preis für Binding-Natur und Umweltschutz (Principado do Liechtenstein) e em 2009 um doutorado honorário da Universidade de Salzburg, Áustria. Na citação, Kräutler é chamado de "personificação da indignação contra as condições sociais que violam a dignidade humana e a esperança de que um outro mundo certamente é possível ".

Kräutler tem escrito uma série de livros, mais recentemente escreveu Flores vermelhas como sangue: Um bispo entre a Vida e Morte, publicado em alemão em 2009.

Carta da Assembléia Cimi Sul e Encontro Macro-Regional Sul-MS

Com o objetivo de partilhar a caminhada , avaliar e aprofundar o processo formativo, tanto dos missionários como das comunidades indígenas e ainda, socializar os desafios e perspectivas do trabalho indigenista junto aos povos indígenas, os regionais do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Sul e Mato Grosso do Sul (MS), se encontraram, entre os dias 28 e 30 de setembro, na cidade de Laranjeiras do Sul, Paraná.

O Sul e Centro-Oeste carregam uma trajetória importante na luta dos povos indígenas do Brasil. Em 1977, quando ocorria intensa depredação ambiental e confinamento de famílias indígenas, os povos implementaram ações que resultaram na retirada de centenas de famílias não indígenas invasoras de várias terras indígenas da região.

Ao longo destes três dias, foi especialmente lembrada a situação vivida por dezenas de acampamentos Guarani nas beiras das rodovias, bem como, a violência sofrida pelas comunidades que voltam a suas terras tradicionais, tais como os recentes casos de Ypo’y (município de Paranhos) e Ita’y, (município de Douradina) no Mato Grosso do Sul. A grave situação de violência que sofreram e a tensão a que continuam submetidos exigem ações urgentes e coerentes do governo federal e ampla solidariedade nacional e internacional.

Tendo presente essa memória de luta, como mística animadora, os regionais do Cimi Sul e MS compartilharam a conjuntura que enfrentam atualmente e reafirmaram seu compromisso solidário e profético junto aos povos indígenas dessas regiões.

No encontro, fez-se uma profunda reflexão acerca dos projetos e empreendimentos que estão impactando as terras indígenas no Brasil. Os regionais refletiram a preocupação em relação ao avanço de grandes projetos que estão atrelados ao Programa de Aceleração do Crescimento e os desafios que existirão após o momento de eleição.

Mas, apesar dos grandes desafios e enfrentamentos, os povos indígenas resistem com sua sabedoria, cultura e organização social. Neste sentido, o Tribunal Regional Federal, da 4ª. Região, através do desembargador Fernando Quadros, deferiu pedido contra a liminar concedida pelo juiz Cláudio Marcelo Schiessl da 1ª. Instância da justiça federal de Joinville, SC, que suspendia os efeitos das portarias declaratórias das Terras Indígenas Pindoty, Morro Alto, Piraí e Tarumã, do grupo indígena Guarani Mbyá. Diante desta boa notícia, o Cimi Sul espera que o ministro da Justiça, Luis Paulo Barreto, que também suspendeu os efeitos das referidas portarias revogue seu ato administrativo e restabeleça seus efeitos assegurando normalidade ao procedimento de demarcatório das terras Guarani no litoral norte do Estado de Santa Catarina.

Também a notícia da publicação das portarias declaratórias da Terra Indígena Buriti, do povo Terena, nos municípios de Dois Irmãos do Buriti e Sidrolância, bem como, a portaria declaratória da Terra Indígena Sombrerito, do povo Guarani Kaiowá, no município de Sete Quedas, no Mato Grosso do Sul, trouxe esperança a essas comunidades, com as quais nos alegramos por esta conquista. Não podemos deixar de lembrar, no entanto, que ainda existe mais de uma centena de terras indígenas a serem identificadas e demarcadas, especialmente do povo Guarani. Que o atual governo cumpra sua promessa e que a Funai viabilize a conclusão dos estudos e publicação dos relatórios de identificação e delimitação dessas terras ainda neste ano.

Durante o encontro, foi recebida com grande alegria e comemoração a boa notícia da contemplação do Prêmio Alternativo do Nobel da Paz ao presidente do Cimi e bispo do Xingu, Dom Erwin Kräutler. O prêmio significa um reconhecimento das lutas firmes e coerentes de Dom Erwin em defesa da vida dos povos indígenas, da Amazônia, da dignidade e da paz.

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