08/03/2013 - 10:08h
Castigo de morte afeta mulheres de todo o mundo
 *Padre Ton
Não há exagero. Os estudos da ONU Mulheres (Entidade das Nações Unidas para a 
Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres) afirmam que sete em cada dez 
mulheres serão estupradas ou vítimas da violência ao longo da vida.
Diariamente somos sobressaltados com a reprodução, na mídia, de casos como a 
do jovem Naiara Karine Costa, de 18 anos, assassinada em janeiro com mais de 20 
facadas após ter sofrido violência sexual extrema, em Porto Velho, capital de 
Rondônia. Na capital do país, onde a alta renda per capita e qualidade de vida 
supostamente deveriam funcionar como uma espécie de amortecedor da violência, o 
castigo de morte a que são condenadas as mulheres é também estarrecedor.
A cada hora, no Distrito Federal, são registradas duas ocorrências, em média, 
de crimes enquadrados na Lei Maria da Penha. Sem a mínima chance de defesa, a 
vendedora Fernanda Almeida, de 25 anos, foi morta a facadas dentro do shopping 
em que trabalhava, há uma semana, crime cometido pelo ex-namorado. O símbolo 
mais recente e forte da brutalidade cometida contra as mulheres é o caso da 
universitária indiana Nirbhaya, de 23 anos, estuprada por seis homens em um 
ônibus e que morreu após sucessivas violências sofridas.
A desafiadora questão é: Como eliminar a violência sexista, mesclada ao 
preconceito, resultado da histórica relação de poder em que o homem se coloca no 
direito de decidir pela vida e morte da mulher? Essa é a crucial pergunta que 
move a ONU durante debate de 10 dias.   O alerta global faz todo sentido porque 
o problema está nas zonas de guerra, no campo, nas cidades pequenas e grandes, 
nos espaços públicos e privados.
É generalizada a violência contra a mulher, e a explicação, inclusive entre 
nós, no Brasil, é a de que a dominação de uma ideologia patriarcal permeia toda 
a relação de gênero e familiar, mesmo que isso pareça algo anacrônico, diante de 
tantas conquistas no mercado de trabalho, na escolaridade e nos postos públicos 
de relevo, como a eleição de nossa presidente Dilma Rousseff.
Faz todo o sentido o debate da ONU neste momento, sendo vital que o movimento 
feminista, na sociedade e dentro dos partidos políticos, deixem o retraimento 
que julgo acometer as ações políticas de valorosas companheiras de todo o país 
que lutaram pela elaboração e aprovação da Lei Maria da Penha com coragem e 
destemor.
Retraimento que me parece motivado pela força avassaladora de setores 
conservadores da sociedade, que em campanha eleitoral, quando elegemos a 
primeira mulher presidente, inibiu a discussão de temas de interesse do universo 
feminino, entre eles a violência dos abortos clandestinos que a hipocrisia finge 
inexistir.
Daí que qualquer outra discussão que possibilite o rompimento de uma relação 
patriarcal e sexista existente, sedimentada pelo machismo, tão arraigada e 
natural em nossa sociedade, e na qual se sustenta a onda de violência contra a 
mulher, representará uma ameaça à dominação exercida por esses setores, que se 
mobilizará na direção de impedir o reforço político da nossa presidente na 
direção de oferecer mais e mais autonomia às mulheres.
Com autonomia, certamente mulheres vitimadas a cada segundo, a cada minuto, a 
cada hora, a cada dia, submetidas à humilhações e subjugadas pelo poder 
patriarcal, deixarão de sofrer o castigo de morte que tanto envergonha o Brasil 
e o mundo. Neste Dia Internacional da Mulher o apelo da ONU deve ser visto não 
apenas como um chamamento sem consequência.
Precisamos reavivar o feminismo brasileiro, responsável pelos direitos civis 
e políticos conquistados a partir do século passado. Solidário às mulheres que 
enfrentam o drama da violência em suas vidas, estou irmanado e comprometido com 
a eliminação de chaga tão dolorida que afeta profundamente as famílias 
envolvidas.
*É deputado federal pelo PT de Rondônia
 
 
 
 
 
 
 
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