Força-tarefa liberta 41 indígenas de trabalho escravo no Rio Grande do Sul
Entre os resgatados estavam 11 adolescentes. Grupo foi encontrado em condições precárias no cultivo de maçã em Itaimbezinho
Por Verena Glass
Cultivo de maçã no Rio Grande do Sul. Fotos: Divulgação/MPT
No
último dia 22, uma força-tarefa do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), Ministério Publico do Trabalho (MPT) e Funai libertaram 41
indígenas kaingang - entre os quais 11 eram menores de 18 anos - que
trabalhavam em condições análogas à escravidão em Itaimbezinho, distrito
do Município de Bom Jesus, RS. Os indígenas foram encontrados durante
uma fiscalização de rotina do MTE na atividade de raleio de maçãs em uma
área arrendada pelo empresário Germano Neukamp.
De acordo com o procurador do MPT
Ricardo Garcia, os trabalhadores foram aliciados por um funcionário do
empresário, e nenhum indígena tinha carteira assinada, os contratos de
trabalho eram apenas verbais e por tempo indeterminado, e o pagamento –
também acordado verbalmente - de R$ 40/dia não havia sido efetuado
regularmente, apesar de vários indígenas estarem trabalhando desde
setembro. “Quando chovia e os indígenas não podiam trabalhar e não
recebiam”, relata o procurador. O empregador também não forneceu as
ferramentas de trabalho ou quaisquer equipamentos de proteção individual
(EPI).
Já
as condições precárias de alojamento e alimentação chocaram os membros
da força-tarefa. Segundo a auditora fiscal Inez Rospide, coordenadora da
Fiscalização Rural no Rio Grande do Sul, que coordenou a libertação, os
alojamentos estavam em péssimas condições, havia apenas dois banheiros
para os 41 trabalhadores, as famílias – inclusive crianças – se
apertavam em espaço insuficiente, a fiação elétrica estava solta, o frio
entrava pelas frestas, a água era armazenada em garrafas pet e havia
comida estragada pelos cantos.
De
acordo com Ricardo Garcia, do MPT, o alojamento já havia sido
interditado em outra fiscalização em 2009, e de lá para cá só se
deteriorou. “Pode até ser que os indígenas vivem com menos conforto nas
aldeias, mas aquilo era insuportável até para um trabalhador mais
rústico”, afirma o procurador.
Adolescentes Dos
11 indígenas adolescentes libertados pela força-tarefa, cinco tinham
entre 14 a 16 anos, e outros seis, de 16 a 17 anos. “Uma garota de 17
anos estava grávida. O pai da criança, de 15, também trabalhava no
local”, relata a auditora fiscal Inez Rospide. A contratação de menores
de 18 anos é proibida por lei, e gerou dois autos de infração ao
empregador.
Coordenador da
Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), Rildo Kaingang
explica que a presença de adolescentes nas frentes de trabalho é um
fator que exige especial atenção dos empregadores, uma vez que a total
ausência de políticas públicas para as aldeias Kaingang tem forçado cada
vez mais indígenas a buscar fontes de renda em atividades nos
frigoríficos e nas safras de frutas, como maçã e uva, na região nordeste
do Rio Grande do Sul.
“Para
os kaingang, um adolescente de 13 anos já está entrando na fase adulta,
e os jovens acabam seguindo o caminho indicado a eles pelos adultos.
Como nas aldeias a situação é muito precária – são quase favelas rurais,
sem habitação decente nem qualquer apoio a atividades produtivas por
parte do governo -, os indígenas – e também os adolescentes - são
empurrados a buscar alternativas fora. É obrigação do empregador zelar
pelo cumprimento da lei e não contratar estes jovens, que ficam expostos
a condições impróprias, como áreas com perigo de contaminação por
agrotóxicos, e outros problemas”, explica o dirigente da Arpinsul.
Após a libertação dos indígenas, foram lavrados 17 autos de infração contra o empregador Germano Neukamp – entre eles, a falta de sinalização das áreas tratadas com agrotóxicos -, e foram pagos 50% dos direitos recisórios (que totalizam R$ 54.646,32). O restante será quitado no dia 23 de dezembro. Os indígenas foram reconduzidos à aldeia na terra indígena Monte Caseros, e o MTE emitiu as carteiras profissionais de todos os trabalhadores que ainda não as tinham, com anotação do início e fim dos contratos de trabalho, para todos os fins, inclusive previdenciários.
Procurado pela reportagem, até a conclusão da matéria o empresário Germano Neukamp não retornou o telefonema nem respondeu e-mail com solicitação de entrevista.
Após a libertação dos indígenas, foram lavrados 17 autos de infração contra o empregador Germano Neukamp – entre eles, a falta de sinalização das áreas tratadas com agrotóxicos -, e foram pagos 50% dos direitos recisórios (que totalizam R$ 54.646,32). O restante será quitado no dia 23 de dezembro. Os indígenas foram reconduzidos à aldeia na terra indígena Monte Caseros, e o MTE emitiu as carteiras profissionais de todos os trabalhadores que ainda não as tinham, com anotação do início e fim dos contratos de trabalho, para todos os fins, inclusive previdenciários.
Procurado pela reportagem, até a conclusão da matéria o empresário Germano Neukamp não retornou o telefonema nem respondeu e-mail com solicitação de entrevista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário