DECLARAÇÃO DA ALIANÇA DOS RIOS DA PAN – AMAZÔNIA EM COBIJA – DEZEMBRO DE 2012
Lideranças, afetados e ameaçados das
várias regiões onde o governo está implantando hidrelétricas na Amazônia
se reuniram para rearticular ações conjuntas
Fonte: blog Xingu Vivo - Publicado em 04 de dezembro de 2012
De 28 de novembro a 1º de dezembro deste ano, aconteceu em Cobija,
na Bolívia, o 6º Fórum Social Pan-Amazônico (FSPA) 2012 com o tema
“Pela unidade dos povos da Amazônia para transformar o mundo”.
No evento, lideranças, afetados e ameaçados das várias regiões onde o
governo está implantando hidrelétricas na Amazônia, se reuniram para
rearticular ações conjuntas, produzindo a seguinte declaração:
Declaração da Aliança dos Rios da Pan Amazônia
Considerando a realização do VI Fórum Social Pan-Amazônico, com o
tema: “Pela unidade dos povos da pan-amazônia para transformar o mundo”;
Considerando as discussões e debates realizados pelos povos, organizações e movimentos da aliança dos rios da Pan – Amazônia;
Considerando as atuais conjunturas estatais latinoamericanas, que vêm
escolhendo modelos de desenvolvimento como a Iniciativa de Integração
Regional de Infraestrutura Sul Americana- IIRSA e o Programa de
Aceleração do Crescimento- PAC (Brasil);
Considerando os mega projetos que estão em fase de planejamento,
implementação ou conclusão na Pan Amazônia, tais como as usinas
hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau no Rio Madeira, a usina
hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingu, as usinas de Colíder, Teles
Pires, São Manoel e Foz do Apiakás no Rio Teles Pires, o complexo de
usinas hidrelétricas no Rio Tapajós, a usina de Estreito no Rio
Tocantins, Hidrelétrica Tabajara no Rio Machado em Rondônia, pequenas
centrais hidrelétricas espalhadas por toda a pan-amazônia, além de
concessões florestais, dos projetos de mineração, hidrovias, portos,
rodovias, petroleiras, gasodutos, termelétricas e a rodovia
interoceânica;
Considerando que a Pan-Amazônia é hoje a maior área de água doce,
diversidade biológica, cultural e linguística do mundo e que todos estes
empreendimentos vêm sendo executados a partir de uma lógica autoritária
e atropelada;
Considerando a diminuição e a falta de efetividade dos direitos ambientais, sociais e dos povos originários na América Latina;
Considerando que para a implementação dos grandes projetos uma das
principais estratégias consiste no esvaziamento de garantias
constitucionais, do solene desprezo da Convenção 169 da OIT e da
tentativa de desregulamentação dos direitos dos povos indígenas no
Brasil, com documentos como a PEC 215, o PL 1610-95 e a Portaria 303 da
AGU;
Considerando que a Pan-Amazônia não é uma colônia de exploração para o
Estado e as grandes corporações, mas sim um lugar onde milenarmente
vivem povos originários, que possuem seus próprios modos de vida,
desenvolvimento, costumes e uso dos recursos naturais;
Considerando que estes povos estão sendo desapossados dos recursos
naturais, de seus territórios e de suas culturas a partir de uma
estratégia de assimilação e integração forçada ao sistema econômico
vigente e que, mais recentemente, o Governo Federal vem militarizando a
execução destas obras como forma de criminalização dos movimiento de
resistência e enfraquecimento da luta dos povos indígenas e comunidades
tradicionais;
Considerando a continuidade da política de extermínio dos povos
indígenas da América do sul, que tem como exemplo mais recente a invasão
da Aldeia Munduruku de Teles Pires no Estado de Mato Grosso, pela
Polícia Federal, onde houve assassinato, pessoas gravemente feridas,
mulheres e crianças atingidas por balas de borracha, bombas de gás
lacrimogênio, de efeito moral, além do comprometimento da qualidade da
água e recursos alimentares da comunidade;
Considerando que todo este processo está sendo financiado com
dinheiro público oriundo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social do Brasil, sem que haja um controle e transparência no repasse
dos recursos;
A ALIANÇA DOS RIOS DA PAN-AMAZÔNIA DECLARA:
- A unidade dos povos dos rios da Pan-Amazônia na luta constante por um modelo de desenvolvimento que respeite as formas de ser, fazer, viver, saber e de se organizar dos povos amazônicos;
- Continuaremos exigindo dos governos a implantação e implementação de políticas públicas, ouvindo e fazendo valer a voz dos povos da Pan-Amazônia;
- Não recuaremos nos nossos princípios éticos, políticos, na luta pela democracia participativa, pelos direitos humanos e justica socioambiental, denunciando todos os massacres, genocídios, etnocídios, abusos e violências que estão sendo praticados pelos Estados latinoamericanos para a implantação de grandes empreendimentos na Aan – Amazônia;
- Os povos da Aan – Amazônia não aceitam mais a truculência com a qual os governos estão conduzindo seu modelo de desenvolvimento, tampouco que este modelo seja chamado de “sustentável”;
- Que na Pan – Amazônia existem povos originários, assim como centenas de comunidades e que este não é um espaço vazio que vive na “solidão”;
- Declaramos ao mundo que os Estados Nacionais da Bacia Amazônica estão enfrentando um momento de superexaltação do econômico em detrimento das garantias políticas e sociais e que isso é a nota característica de Estados de exceção e ditatoriais;
- Buscaremos a unidade dos povos da Pan – Amazônia para lutar pela manutenção de um Estado verdadeiramente democrático e por um desenvolvimento sustentável que considere os direitos dos povos, das florestas, das águas, dos animais e de toda a natureza;
- Declaramos que não aceitamos mais a utilização de força e violência policial contra os povos da Pan-Amazônia e que responsabilizamos integralmente o governo brasileiro pela invasão e massacre da aldeia Munduruku de Teles Pires;
- Declaramos que não aceitamos mais que os grandes empreendimentos sejam financiados com dinheiro público;
- Declaramos que buscaremos apoio internacional para a proteção de nossos direitos e que por isso declaramos, neste momento, nossa insurgência e beligerância no sentido que o direito internacional público confere a estas categorias.
Esse é o nosso compromisso, a nossa fé, a nossa esperança e a nossa luta.
Cobija, Bolívia, 01 de dezembro de 2012.
ALIANÇA DOS RIOS DA PAN-AMAZÔNIA
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