segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

MOVIMENTO JUSTIÇA JÁ FAZ ATO PÚBLICO NO ANIVERSÁRIO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS









CARTA PÚBLICA

MOVIMENTO JUSTIÇA JÁ: POR UMA RONDÔNIA, UMA PANAMAZONIA, UM BRASIL E UM PLANETA SEM VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS!

No dia 10 de dezembro de 2012 comemora-se em nível internacional, o 64ª. aniversário da DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, adotada e proclamada pela resolução 217-A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.
Em seu Preambulo a Declaração Universal dos Direitos Humanos destaca entre outros, como fundamentais: “o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”...; “ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão”; “ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações”; “que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla; que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades e que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso...”.
Passados mais de seis décadas da Declaração, o Brasil continua na contra-mão de sua efetivação. Além da presente Declaração, nosso País também é signatário da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, cujas leis somadas e cumpridas, gerariam a total proteção dos direitos da pessoa humana. Fazemos esta afirmação porque:
1.Os grandes projetos de colonização dos anos 60 e 70, de modo particular na Amazônia deixaram um rastro de destruição e morte. Rodovias foram abertas, hidrelétricas construídas sob a máxima de “levar homens sem-terras para terras sem homens”, desafogando os conflitos agrários no sul e sudeste de maneira mais forte, produzindo novos conflitos, como o Massacre do Paralelo 11, no norte do Mato Grosso, provocando a dizimação de aldeias inteiras do Povo Cinta Larga; dizimação do Povo Akunsú na região de Corumbiara/RO, crimes estes que até hoje não foram julgados e processados os mandantes, numa clara estratégia de limpeza de área para implantação dos projetos de colonização, iniciado com a extração de minérios e madeiras, nascendo assim os núcleos urbanos;
2.A corrida pela terra de modo particular em RO, AC, MT e PA, atraiu milhares de migrantes e ao mesmo tempo uma concentração das melhores terras nas mãos de grandes proprietários, com apoio do Governo Federal, que doava terras a estes em troca de promoverem o “desenvolvimento” da região, levando à concentração de um banco de terras públicas em mãos de verdadeiros grileiros de terras, em regiões estas com diversos conflitos fundiários a exemplo de: Massacre de Corumbiara (1995, cuja solução parcial às famílias ocorreu somente em 2012 com muita luta); Massacre de Eldorado dos Carajás no mesmo ano e que até o presente momento não foi feito Justiça de fato com os coo-mandantes destes;  
4.A abertura das Rodovias como BR 364, BR 429 e BR 421 (em RO) e BR 319 (AM) deixaram um rastro de dizimação de povos indígenas e desestruturação da vida dos seringueiros que aqui viviam. Os Kaxarari (RO) por exemplo, tiveram suas terras rasgadas ao meio, entrada de mineradora e mesmo a terra demarcada sofreu invasão da nova fronteira agrícola rumo ao sul de Lábrea (AM) e que após muita luta deste povo, a Justiça Federal reconheceu o direito de rever os limites da terra, mas a mesma, assim como a do Povo Karitiana, sofreu e está sofrendo intervenção de Ação Civil Pública dos municípios de Lábrea e de Candeias do Jamari, contrários às redefinições das terras tradicionais dos mesmos, o que é uma violência desmedida do próprio poder público que em defesa de interesses particulares agem, contradizendo a Política de Desenvolvimento Territorial do próprio Governo Federal, a qual prega o respeito à diversidade étnica e cultural em cada território;
5.A implantação do complexo hidrelétrico do Rio Madeira tem alargado o rastro de destruição, contradizendo o discurso das empresas e governos (municipal, estadual e federal) de que estas representariam o ápice do desenvolvimento regional e o que se vê em cada esquina de Porto Velho e dos distritos e municípios vizinhos é total descaso com a vida humana. Pessoas que vieram em busca do emprego que formam contingente de sem-tetos, sem-salários, sem-comida e sem-dignidade. O sistema de saúde pública agoniza na UTI, cujos investimentos tardios teimam em resolver uma lacuna de mais de 5 anos ao contar do início das obras. A droganição, violência sexual infanto-juvenil, violência doméstica, crianças com famílias desestruturadas (os filhos da barragem- sem pais que já se foram), violência com mortes no trânsito de Porto Velho gerando um exército de mutilados, são alguns elementos que carecem de reflexão e intervenção dos órgãos de Justiça, diante do descompasso do orçamento de bilhões para as obras de infra-estruturas das hidrelétricas em detrimento de poucos milhões para atenuar os impactos negativos disso tudo;
6.Denunciamos a formação e ação de milícias armadas na região de União Bandeirantes, Jaci-Paraná e Vista Alegre do Abunã, que motivados pelo alto preço das terras na região, desencadeou uma onda de assassinatos ainda impunes, porque os mandantes estão livres ou foragidos. Convém destacar assassinatos como do Sr. Osmar e Izaias em Jaci, membros do Conselho Comunitário local (2009/2010); do Sr. Dinho em Vista Alegre (2011) assim como o assassinato de família inteira em União Bandeirantes (2008) e em Jaci no início de 2012, além de forçar ao exílio famílias ligadas à dos assassinados... Quanta impunidade nesta região das obras do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC!
7.Dessa forma também denunciamos, assim como fez a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal em junho/2012, a prisão e tortura de ex-trabalhadores no canteiro de obras em Jirau; a abertura de falência de empresas contratadas pelos consórcios construtores das usinas, deixando à mingua centenas de trabalhadores, pois ficaram mais de 6 meses sem emprego, salário e sem apoio das autoridades competentes;
8.Denunciamos que as Ações Civis Públicas impetradas pelo Ministério Público Federal ou diretamente pela sociedade civil organizada, denunciando as violações do marco legal do licenciamento ao Complexo Madeira, tiveram por parte da Justiça Federal em RO ou em Brasília um julgamento de mérito político, jogando na lata do lixo os preceitos da prevenção de acidentes e de violações dos direitos da pessoa humana, cujos resultados saltam aos olhos nos dias atuais como: extermínio do peixe no rio Madeira, comprometendo a segurança alimentar e nutricional de povos campesinos da Bolívia, indígenas e seringueiros nos rios Mamoré e Guaporé, bem como dos moradores das periferias dos centros urbanos que dependiam do peixe pra se alimentar; o desbarrancamento do Bairro Triângulo deixando centenas de famílias sem moradias, vivendo em verdadeiros campos de concentração em hotéis/pousadas; o distrito de Jaci-Paraná que está sem água potável em seus poços pela subida do lençol freático, tornando mais caro o custo de vida dos moradores e com isso intensificando atendimento médico principalmente em crianças e idosos com verminoses; destruição das várzeas a montante e a jusante, comprometendo a produção de várzea e por sua vez o abastecimento de produtos regionais nas feiras de Porto Velho... Tudo foi desencadeado para aproveitar a “janela hidrológica” e agora sofremos as mazelas do não planejado e do aprovado a toque de caixas... Inadmissível!
9.Este cenário se repete no Rio Xingu, no Teles Pires, no Tapajós e por conseguinte no Rio Machado, ou seja o mesmo discurso de desenvolvimento para ludibriar pessoas, para ter aceitação, sem considerar a destruição e morte que está causando e que causará. No Rio Madeira, mais de 30 mil famílias foram expulsas pelas obras de Santo Antonio e Jirau. A maioria continua brigando na Justiça para ter seus direitos reconhecidos. No Rio Jaci, o projeto Pesca Sustentável foi exterminado com a formação do lago de Santo Antonio em dezembro de 2011 e até agora o Consórcio da referida hidrelétrica se nega a pagar qualquer quantia às 30 famílias que faziam parte do referido projeto. Milhares de processos correm na Justiça comum, exigindo cumprimento de acordos, pagamentos de indenizações, mas parece que o poder jurídico e político das empresas falam mais altos, amordaçando e vedando os olhos da Justiça rondoniense, da Amazônia e do Brasil. Exigimos urgência na avaliação das ações judiciais e deliberação em favor da Vida destas famílias que estão com seus destinos nas mãos destas empresas.
10.Exigimos dos órgãos de Justiça de nosso País, que interrompam o ciclo de financiamento destas hidrelétricas com recursos públicos por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social- BNDES e outros fundos públicos de previdência, principalmente por que são investimentos de riscos, deliberados de forma unilateral sem transparência pública, inclusive assumindo uma postura imperialista nos países vizinhos como Bolívia e Perú (financiando rodovia e hidrelétricas) em regiões conflitivas por atingir terras comunitárias de campesinos e indígenas. Nesta mesma direção está a Caixa Econômica Federal o que causa estranheza, já que em Belo Monte, investidores privados caíram fora pelo risco que o investimento representa, mas o Governo com suas agências públicas assumiram a continuidade. Exigimos investigação e julgamento urgente destes procedimentos, porque recurso público é patrimônio dos brasileiros e deve ser democratizada a deliberação de seus usos e não de forma unilateral, ditatorial...
11.Repudiamos e exigimos Justiça Já no Caso do Povo Munduruku e dos Guarani Kaiowá. A criminalização, a milícia armada e militarização na proteção de direitos nada difusos, representam um Estado a serviço da propriedade privada e de um modelo de desenvolvimento excludente. O acesso á terra e às políticas públicas essenciais é direito de todos e dever do Estado brasileiro e não moeda de troca para aprovação de projetos de infra-estruturas que desestruturam vidas. Abaixo os projetos de Morte!
EM NOME DOS DIREITOS UNIVERSAIS DA PESSOA HUMANA, conclamamos os órgãos de JUSTIÇA de nosso País e do Estado de Rondônia, que continuem e intensifiquem a apuração de todas as violações de direitos humanos em nossa região, que o direito de ir e vir, de decidir sobre o futuro que queremos, com consultas prévias e informadas de verdade, com direito a dizer não, sejam garantidos conforme preconiza esta Declaração Universal e a Convenção 169 da OIT, porque só assim vamos construir uma sociedade justa, solidária e com equidade, respeitando os processos culturais das centenas de Povos e Comunidades que habitam este País e de modo Particular na Panamazônia.
Por isso Declaramos:
- Permaneceremos unidos e resistentes até que a última violação de direitos humanos seja de fato punida;
- Que o POVO PALESTINO tem direito a ser LIVRE, ter autonomia, Estado Nacional e por isso condenamos os que cometem injustiças contra este Povo;
- Que o Estado brasileiro é na atualidade, assim como nos anos de chumbo, o maior violador dos direitos da pessoa humana, dos que vivem fora ou dentro do sistema prisional;
- Que a Justiça em nosso País precisa tirar as vendas dos olhos e enxergar para além das deliberações da “ordem e o progresso”;
- Que PARE BELO MONTE – JUSTIÇA JÁ, porque este projeto representa o maior risco de investimento público, insustentabilidade ambiental, social e econômica para nosso País e para os povos da região... “Balbina” nunca Mais na Amazônia, no Brasil e com recursos Públicos!
- Justiça Já aos expulsos e desamparados do Direito no Rio Madeira, das dezenas de comunidades, do Bairro Triângulo, da comunidade de pescadores, das comunidades de terreiros que perderam o espaço sagrado nas cachoeiras de Santo Antonio e Jirau;
- Justiça Já com demarcação da terra dos Povos Karitiana, Kaxarari e reconhecimento da terra indígena do Povo Kassupá e Salamãi. Exigimos que a FUNAI garanta na Casa de Apoio desta em Porto Velho, condições básicas para que estes indígenas que precisam da estrutura em Porto Velho: para resolver seus problemas de saúde, aposentadoria e venda de produtos agrícolas, porque neste momento estão sem água para consumo, ficando à mercê da própria sorte enquanto milhões estão sendo gastos em projetos que os desagregam socialmente e o saque dos recursos naturais de suas terras segue forte;
- Justiça Já e punição a todos os envolvidos em atos de corrupção na gestão pública e privada, tirando do Povo o direito à melhores condições de Vida. Se há corruptível há corruptor. Por isso exigimos investigação nos atos dos Consórcios construtores de barragens, para esclarecer o caminho do desvio dos recursos públicos;

- Até que a Justiça seja feita continuaremos a Exigir JUSTIÇA JÁ!


MOVIMENTO JUSTIÇA JÁ: POR UMA RONDÔNIA, UMA PANAMAZONIA, UM BRASIL E UM PLANETA SEM VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS!


Porto Velho 10 de dezembro de 2012.

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