INDÍGENAS TENHARIN CONVIVEM COM
AMEAÇAS DE MORTE EM HUMAITÁ
No último dia 25 de junho, o
presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas (FDPI) e membro
da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara Federal, deputado Padre Ton,
delegado por ambas esteve reunido com centenas de indígenas Tenharin na Aldeia
Kampinho´hu, no km 137 da BR Transamazônica.
Na chegada foi recebido com
honras indígenas, sendo conduzido até o local da reunião por um ancião e
lideranças, que entoavam canto um canto de boas vindas.
Logo no início da reunião as
anciãs Maria, Joana e Yretá, ambas com mais de 90 anos
cada, sobreviventes do grande massacre promovido com a abertura da BR
Transamazônica, foram convidadas a dar sua mensagem ao representante da
CDH. Ambas foram enfáticas em afirmar em sua língua materna (tupi kagwahiwa) o
quanto estão sofrendo com tudo isso. Dona Joana inicia perguntando: “quando vai
acabar essa violência... depois de termos vivido o período de escravidão na
época do seringal, depois abertura de estrada, mineração, tudo isso... e agora
tiraram nossos netos...quando vai acabar isso”¿ Dona Yretá falou que “estou
cansada de chorar, não consigo nem andar, quero ver meus netos, ajudem eles
voltar”.
A fala das anciãs foram
precedidas de dezenas de outras, dos representantes de cada aldeia presente
(Kampinho´hu, Mafui, Bela Vista, Marmelo 1, Marmelo 2, Marmelo 3, Vila Nova e
Tracuá) afirmando que o único objetivo agora é a liberdade dos cinco parentes
presos injustamente (Domiceno, Gilvan, Gilson, Valdiná e Simeão). Todos
manifestaram preocupação com a segurança do povo diante da certeza de que até o
final de julho será julgado novo habeas corpus e estes terão a liberdade
merecida.
Porém, o que mais nos chama a
atenção são as constantes ameaças de morte que lideranças estão sofrendo na
cidade de Humaitá e a omissão da Polícia Civil que ao ser procurada para
registrar boletim de ocorrência afirma estar sem sistema. E isso não foi
somente uma vez que ocorreu segundo as lideranças, as quais não se sentem mais
seguras em buscar este tipo de serviço, porque o sentimento de descaso para com
a proteção de suas vidas os faz se esconder cada vez mais. O direito de
ir-e-vir e o direito à segurança está comprometido diante disso.
As ameaças vão desde perseguição
no hotel onde se hospedam e até mesmo na hora de comer um churrasquinho no cair
da tarde. Querem cercear até o direito das pessoas se alimentarem, cujas
ameaças intimidatórias vão desde palavrão a até dizer que devem sair do local
porque não são bem vindos à cidade. Como pode algum cidadão se dizer dono da
cidade e exigir que o outro se retire para não sofrer atentado? Será que
Humaitá é terra de ninguém? Cadê as centenas de policiais utilizados na busca
dos corpos e na criminalização dos indígenas? Cadê a prisão dos incendiários de
bens públicos e privados?
Já passou da hora da Polícia
Rodoviária Federal (PRF) e da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), juntamente
com o Departamento Nacional de Infra-Estrutura e Transportes (DNIT),
regularizar a circulação de veículos durante o dia e a noite nos limites que
envolve a terra indígena, á exemplo dos Waimiri Atroari - Manaus sentido
Roraima. Os Jiahui e Tenharin que somam mais de mil pessoas não podem pagar com
suas vidas pela irresponsabilidade do Estado brasileiro que cortou seu
território tradicional com a BR Transamazônica e agora os abandona à própria
sorte.
Passou da hora de cumprir a
Constituição Federal e promover os direitos originários, assim como garantir o
direito de ir-e-vir de todos e todas que moram nesta região, porém fazendo
justiça diante daqueles que querem à todo custo destruir vidas que vivem à
margem dos direitos conquistados.
Justiça Já e Liberdade aos cinco
Tenharin, criminalizados por serem indígenas e por apresentarem um modo
diferente de vida na relação com a natureza, o Bem Viver.
Iremar Antonio Ferreira
Diretor do Instituto Madeira Vivo
- IMV
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