INSTITUTO MADEIRA VIVO INAUGURA SISTEMA SOLAR FOTOVOLTAICO EM PORTO VELHO - RO
No final da tarde do último dia 18 de fevereiro de 2021, em meio à pandemia de coronavírus, na Rua Guarapari, 4616, Bairro Nova Floresta, na cidade de Porto Velho-RO, onde situa-se a sede do Instituto Madeira Vivo- IMV e do Coletivo Indígena Mura de Porto Velho, conhecida também por ser o Espaço Cultural Maloca Querida (território de luta, resistência e trocas culturais), observando os cuidados de distanciamento social, foi feito um pequeno ato de inauguração da micro usina de geração de energia solar fotovoltaica.
Na abertura fez-se um minuto de silêncio em memória às vítimas da pandemia de Covid 19, de modo especial a uma ex-moradora desta rua e vizinha e do último sobrevivente do "tempo das correrias" e guerreiro do povo Juma, o Amoin Aruká Juma, ambos falecidos no início desta semana. Um ato de protesto pela necropolitica em curso no Brasil, na Panamazonia e no mundo, dizendo Fora Bolsonaro e Vacina universal Já!
O sistema solar fotovoltaico instalado na sede do IMV, possui a potência de 6,08 Kwp. É composto por 18 módulos, popularmente conhecidas por placas solares, com capacidade de 335 Wats cada uma, com inversores de 5 Kw e com monitoramento remoto em tempo real via enternet. A produção média mês será de 650 Kwh e a média de consumo no local é de 550 Kwh, o que possibilitará uma geração de excedente.
Iremar Ferreira do IMV, responsável pela ação explicou aos presentes no ato e aos assistentes moradores vizinhos, que este sistema só foi possível graças à Resolução 482 da Agencia Nacional de Energia Elétrica- ANEEL, uma conquista do Movimento Social em 2012 durante a Rio+20, que infelizmente poucas pessoas conhecem desta possibilidade de geração descentralizada, até porque as próprias empresas geradoras de energia centralizadas não querem que o povo saiba. O próprio Governo Federal não promoveu campanhas de divulgação, esclarecimentos, orientações e não abriu possibilidades de créditos acessíveis à população interessada em instalar este tipo de sistema micro e mini geração descentralizada.
Entretanto, iniciativas populares como a Campanha Nossa Casa Solar, desencadeada pela Frente por Uma Nova Política Energética para o Brasil- FNPE e a Campanha Igreja Solar, do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental-FMCJS, fortalecida em Rondônia pelo Núcleo do FMCJS e pelo Comitê de Energia Renovável de Porto Velho Rondônia- CERPRO, com a parceria no apoio financeiro, como neste projeto, via Fundo Socioambiental CASA é que conseguem de maneira pontual, demonstrar à sociedade que a Energia Boa do Sol gera Vida, gera energia elétrica e fortalece as resistências em favor da Casa Comum na Bacia do Rio Madeira.
Perguntado sobre os ganhos deste tipo de projeto Iremar explicou, que os ganhos diretos da sociedade do futuro é manter rios livres de barragens e hidrelétricas; que se cada telhado da cidade de Porto Velho tivesse um sistema solar instalado, teríamos mais geração de energia elétrica que as duas usinas hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, com um diferencial, sem precisar expulsar nenhum ribeirinho, sem alagação, inundação e morte do rio, dos peixes, da vegetação e de pessoas com os impactos negativos causados por estes empreendimentos. Outra grande vantagem é que a energia gerada pelo sistema solar é consumido na unidade geradora e nas vizinhanças, sem precisar percorrer longas distância pelos fios gerando perdas, ou seja, a energia justa gerada beneficia a comunidade ao redor, podendo também gerar muito mais emprego permanente e menor custo na produção e consumo da energia elétrica, gerando autonomia, renda e condições de respirar ar menos poluído.
Destacou-se também que, com este sistema gerando créditos, ao invés de pagar a tarifa completa, atualmente em torno de 550,00, passará a pagar já no primeiro mês de geração somente a "tarifa rede", ou seja, pelo uso da rede de energia que chega da concessionária até a casa e que fará a distribuição do excedente, cujo valor não excederá a 100,00.
Participantes no evento como a Ouvidora Valdirene Oliveira (DPE), Emanuel Mura (Comitê pelo Direito à Cidade e Coletivo Mura) e Márcia Mura (Coletivo Indigena Mura de Porto Velho), destacaram a importância de projetos como este, que contribuem para gerar consciência e resistência aos grandes projetos que promovem destruição de vidas. Afirmaram ainda, que o poder público não assume seu papel protagonista de tornar política pública este tipo de iniciativa porque está atrelado a interesses de grupos econômicos, embora o Conselho da Cidade de Porto Velho tenha enviado em 2018 uma mensagem ao Executivo Municipal apresentando uma Minuta de Lei Municipal para adoção de medidas de promoção e incentivo ao uso de energias renováveis justas em consonância com a Resolução 482 da ANEEL, mas que até a presente data não saiu da gaveta. Já em nível estadual via CERPRO, foi motivada a adoção de medidas neste sentido o que gerou a construção de um projeto de lei, de autoria do Deputado Lazinho da Fetagro e que foi aprovado em 2018, mas que nenhuma ação proativa para sua implementação foi adotada pelo Governo de RO.
Porém, iniciativas isoladas nesta linha da geração de energia solar fotovoltaica merecem ser mencionadas em Porto Velho, onde já temos o Seminário Maior na rua Pau Ferro, bairro Maria de Nazaré totalmente solarizado, a Curia Diocesana, a casa das Irmãs Franciscanas, a casa do irmãos Franciscanos, dezenas de projetos de produção integrada agroecológicos com irrigação à base de energia solar, coordenado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens- MAB, além de iniciativas do setor privado.
Ao final da cerimônia os convidados conheceram as instalações básicas do sistema, podendo tirar dúvidas, inclusive de pessoas que passavam pela rua e resolviam parar para saber mais das vantagens deste sistema. A faixa aberta demarcando visualmente o território desta micro usina seguirá orientando os transeuntes de que neste lugar uma nova mensagem, uma semente de consciência está lançada e gerará bons frutos pelos Direitos da Natureza a Mãe Terra e dos Rios serem vivos e livres.
Os sinceros agradecimentos ao Fundo Socioambiental CASA pelo apoio de R$ 20 mil por meio de doação mediante edital e projeto específico, complementado pela contrapartida do IMV e Coletivo Mura em R$ 7 mil., totalizando um investimento de 27 mil reais, que se dividido pelo preço pago hoje, em 3 anos e meio se paga este sistema, podendo sair sem dúvida da modalidade de consumidor cativo das empresas, para gerador-consumidor autônomo.
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