quinta-feira, 19 de março de 2015

ENTRE CHEIAS E INUNDAÇÕES ÀS MARGENS DO RIO MADEIRA...

ENTRE CHEIAS E INUNDAÇÕES ÀS MARGENS DO RIO MADEIRA...




As populações da Panamazônia vivem às margens de rios que lhes garante vida e ao mesmo tempo os desbarranca, por influências das inundações causadas pelas intervenções nos rios que os banha. Como enfrentar as mudanças climáticas decorrentes e viver à margem de seus direitos essenciais?

No rio Madeira, maior afluente do rio das Amazonas, o Governo Federal leva à cabo um projeto de construção de hidrelétricas e hidrovias para produzir energias em favor do grande capital.

Aqui se encontram algumas empresas públicas e privadas, nacionais e transnacionais tais como: Furnas, Odebrechet, Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Suez Tractbel, Siemens, Alstom, Votorantim, Sanden, Taboca, Fundos de Previdência, BNDES, Itaú, Bradesco, Eletrobrás, HSBC, que atuam nas ações de financiamento, construção de linhão de transmissão, obras de engenharia, fornecimento de turbinas entre outras.

Chegaram com a promessa de que resolveriam os problemas da região com estas obras, que gerariam milhares de empregos diretos e indiretos, que seriam a solução para os problemas porque gerariam muitas divisas, grana para os administradores local, estadual e nacional, capitaneados pelo PAC - Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal, alicerçado na lei da PPP - Parceria Público Privada, com total apoio da EPE - Empresa de Planejamento Energético e da ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, ávidos por alimentar seus cofres com as porcentagens que lhe caberia com a viabilidade destes empreendimentos e com isso afastando o "fantasma do apagão".

Porém, para as populações regionais, já fragilizadas em seus direitos foi o que aconteceu: "apagão de direitos". Estas populações indígenas, extrativistas, pescadores, ribeirinhos, periurbanas sequer tiveram o direito de dizer não, porque lhe foi extraído o apoio às obras a partir de promessas de que lhes designariam projetos: posto de saúde, poço artesiano, equipamentos para produção, centro cultural entre outros, o que lhes era de direito, negado pela ausência ou negligência das políticas publicas.

O conhecimento tradicional foi negado nos estudos. O conhecimento técnico do estranho técnico, que adentrou os espaços individuais ou coletivos, perfurando, medindo, desmatando é o que fundamentou os relatórios e os chamados estudos de impacto ambiental, que o Ibama numa segunda rodada, é forçado a dar parecer por sua aprovação apesar das lacunas.

A intervenção é feita no rio Madeira, exterminando com a construção das ensecadeiras mais de 20 toneladas de peixes, os quais almejavam subir para reprodução, mas tiveram o triste fim: a morte, assim como os que deles dependiam para sua segurança alimentar, nutricional e geração de renda. Apesar de afirmarem nos estudos que exterminariam 50% do pescado existente, logo após segundo ano de obras as populações da região afirmam que reduziu em mais de 70% a oferta do peixe ou seja, o peixe sumiu...

Desmatamento, sepultamento de árvores, queima de outras, morte de peixes rio à cima com a formação dos lagos, expropriação territorial de milhares de pessoas, de famílias é a marca destas obras, ao passo que as empresas envolvidas receberam certificado pela produção de "energia limpa" com toda esta sujeira.

O conhecimento tradicional negado pelos relatórios técnicos de empresas conceituadas perante os órgãos de licenciamento, é o que organizou a vida e a ocupação secular de povos e comunidades. Todos estes são categóricos em afirmar que nunca antes tinham visto tamanha destruição pós-enchentes de 2014.

Antes planejavam suas vidas: social, cultural e econômica dialogando com a natureza que os cercava. Para saber se no inverno amazônico, período de chuvas, iria ter ou não cheias, no último dia de cada ano e no primeiro dia do ano novo colhiam um litro de água em cada dia e pesavam a mesma, que diante do peso devido a quantidade de sedimento contida na água, sabiam o que enfrentariam pela frente e se preciso fosse subiam ainda mais as residências, colhiam antes a castanha e outros produtos que lhes garantiam segurança alimentar e geração de renda. As cheias tinham prazos para iniciar e terminar, não comprometendo suas vidas, ao contrário, depositava nas praias e áreas alagadas sedimentos que fertilizavam e produziam em abundância melancia, melão, maxixe, feijão de praia, cheiro verde... Mas, para que serve isso diante dos altos custos das horas de consultorias científicas e pilhas de documentos.

Porém, com as intervenções no rio Madeira, seu barramento com formação de lagos, que dentro de um planejamento de médio e longo prazo pelo Ministério da Integração Regional está a construção de uma hidrovia para escoar soja do cerrado brasileiro e boliviano, provocou no ano de 2014 a maior inundação jamais vista, também apelidada de cheia atípica, que durou mais de três meses, provocando a morte e contaminação de toda forma de vida antes ali existente.

Na grande bacia hidrográfica do rio Madeira, conectado com os rios Abunã, Madre Dios, Beni, Mamoré, Guaporé e tributários menores o que se viu foi destruição e morte de pessoas, animais, peixes, produção e vegetação gerando insegurança alimentar, nutricional e desagregação social... Os barrancos não suportaram a carga d´água e se transformaram em sedimentos rio à baixo e rio à cima dos barramentos nas cachoeiras de Santo Antônio e Jirau.

A insegurança continua já que o rio Madeira está com seu leito mais raso com a grande sedimentação em toda sua dimensão, reafirmando o que o hidrólogo Jorge Molina já previu em estudos antes mesmo do inicio das obras, dessa forma não precisará de grandes chuvas para provocar novas inundações, que se tornarão um pesadelo anualmente e junto com ela toda forma de contaminação das águas com elevação do lençol freático, dos peixes, desestruturação social e ecológica entre outros e quem pagará esta conta com suas vidas são principalmente os povos e comunidades deixadas às margens desse tal desenvolvimento, desbarrancadas em seus direitos essenciais entre cheias e inundações enquanto as empresas lucrarão bilhões em novas obras como esta e por sua vez financiarão campanhas de políticos que os defenda...BASTA desse modelo agro-hidro-exportador de matéria primas às custas de Vidas amazônidas!


Cheias, Rios e Águas conduzem e produzem Vida. Inundação é sinal de Morte. NÃO as Barragens nos rios da Panamazônia! Sim à VIDA!

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto. Pertinente e necessário.