sexta-feira, 24 de maio de 2013
sábado, 18 de maio de 2013
POVO KARITIANA LUTA POR SEU TERRITÓRIO, MAIO 2013
DOCUMENTO
DA ASSEMBLEIA DA ASSOCIAÇÃO AKOT PYTIN ADNIPA – APK SOBRE O TERRITORIO
TRADICIONAL.
Nós povo
indígena Karitiana, da aldeia Kyowã, Bom Samaritano, Byjyty osop aky e
Juarí, reunidos na “Assembleia Ordinária
da Associação Akot Pytin Adnipa”, nos dias 13 a 17 de maio de 2013, com o tema
“Políticas Indigenista, ameaçam os Povos Indígenas”, na Aldeia Kyowã, T. I. Karitiana, município de
Porto Velho, para discutir e refletir os problemas que nos atingem, expomos
nossas angustias, preocupações e violências ainda vivenciadas diariamente por
nossas comunidades e territórios
tradicionais.
O grito dos povos indígenas ecoa mundo afora, mostrando
a resistência e força, hoje o estado brasileiro, com formas modernas de
opressão e outras que já são conhecidas, como as visões dos que dominam,
através da banca ruralista, presente no Congresso Federal, e ainda, através dos
meios de comunicação sociais divulgam de que os povos indígenas são seres
inferiores, não produzem e atrapalham o chamado “desenvolvimento”.
A mais de 10 anos o povo Karitiana vem reivindicando
a Terra Tradicional, que ficou fora dos limites do território demarcado. Vários
GTs foram constituídos e até agora nada de concreto acontece, ficando estas
terras nas mãos de fazendeiros e políticos, que se unem para fazer campanha
difamatória contra o Povo Karitiana, aumentando assim o preconceito e a
discriminação que a sociedade tem sobre nós.
Conhecemos muito bem, quem são os nossos inimigos e
que fazem de tudo para derrubar os nossos direitos, já garantido na
Constituição Federal de 1988. O deputado Moreira Mendes – Presidente da Bancada
Ruralista e todo o seu grupo, desrespeitam a constituição Federal e a convenção
169 da OIT, elaborando Projetos de Emendas Constitucionais, que violam o
direito dos povos indígenas. Sem uma
presença forte do estado, nosso território se torna presa fácil, nas mãos de
grupos econômicos e especuladores, pois as ações das instituições responsáveis
por desenvolver a fiscalização e a proteção do nosso território, as tem
desenvolvido esporadicamente, quando fazem.
Nos últimos governos, constatamos a falta de vontade
política, para que os programas e projetos que beneficiam as comunidades
indígenas sejam efetivamente executados. Isto estimula a cobiça de segmentos
econômicos e políticos que ambicionam a exploração das nossas terras e os
recursos ambientais, hídricos e minerais.
O governo brasileiro busca fortalecer o poder econômico, não
considerando a cultura, o modo de ser e conviver com a mãe terra diferenciados
da sociedade não indígena.
As ações projetadas no PAC (Plano de Aceleração do
Crescimento), o agronegócio que avança fortemente sobre nosso território, não
bastasse estas ações, ainda o Congresso através da bancada ruralista e o
próprio governo, violam os nossos direitos, garantidos na Constituição Federal,
com os projetos de emenda constitucionais e projetos de leis que legalizam a
invasão dos territórios indígenas por grandes corporações, como é o caso do
Complexo Hidrelétrico do Madeira, da PEC 215, 038, 237, o PL 1610, Portaria
303/2012 da AGU e outros tantos projetos que decretam a invasão do nosso
território e aumenta o preconceito e discriminação.
Com estes Projetos de Emenda constitucionais
continua o extermínio das nossas comunidades e dos povos indígenas através do confinamento de povos e
comunidades em terras insuficientes; da morosidade do governo na condução dos
procedimentos de demarcação das terras, do descaso nas áreas de saúde e
educação; da omissão do poder público diante das agressões cotidianas, da
invasão de terras por madeireiros, grileiros, fazendeiros, das violências
sistemáticas praticadas contra indígenas.
Nós, Povo Karitiana viemos a publico manifestar
nosso repudio contra as ações do Governo Brasileiro e da Bancada Ruralista no
Congresso Federal, que violam os nossos direitos já conquistados na
Constituição Federal. Estamos mais de 10 anos lutando pela demarcação do nosso
território tradicional, lugar sagrado para nós e que possibilita a nossa
reprodução física e cultural, porque é um lugar, onde vive os espíritos de
nossos antepassados, onde temos garantia de caça e pesca para a continuidade
das gerações futuras. Exigimos a imediata
demarcação do nosso território.
Exigimos a revogação da Portaria 303 de junho de
2012, da AGU e a PEC 215, que é uma verdadeira afronta aos direitos
constitucionais. O Congresso Federal e o Governo Brasileiro estão
desrespeitando os direitos dos Povos Indígenas e assassinando a Constituição
Federal e a Convenção 169 da OIT, decretando o genocídio dos povos indígenas de
todo o Brasil. Sem que haja um reparo moral e medidas indenizatórias para
nossas comunidades, que vem sofrendo com as políticas anti indígenas do
governo.
Aldeia Central,
17 de Maio de 2013.
DOCUMENTO FINAL ASSEMBLÉIA KARITIANA - MAIO 2013
DOCUMENTO
FINAL DA ASSOCIAÇÃO AKOT PYTIN ADNIPA – APK.
Nós povo indígena Karitiana, da aldeia Kyowã, Bom
Samaritano, Byjyty osop aky e Juarí, reunidos na “Assembléia Ordinária da
Associação Akot Pytin Adnipa”, nos dias 13 a 17 de maio de 2013, com o tema “Políticas
Indigenista, ameaçam os Povos Indígenas”, na Aldeia Kyowã, T. I. Karitiana,
município de Porto Velho, para discutir e refletir os problemas que nos
atingem, expomos nossas angustias, preocupações e violências ainda vivenciadas
diariamente por nossas comunidades e territórios tradicionais, no que se
refere:
SAÚDE
Ø Constatamos mais
uma vez que a falta de um atendimento diferenciado tem provocado o agravamento
de saúde e em alguns casos a morte de indígenas.
Ø Continua a
demora do atendimento nos hospitais e os Pacientes que necessitam de tratamento
especializado, dentro e fora do Estado não é priorizado seu encaminhamento.
Ø A estrutura da
Casa de Saúde Indígena, atende em nível regional, sem dar o atendimento devido
e especifico para os povos Karitiana, Karipuna, Cassupá e Salamãi. Falta equipe
médica, infra-estrutura: como central de ar e ventiladores, medicamentos,
equipamentos e formação especifica dos profissionais envolvidos. Também faltam
medicamentos básicos nos postos de saúde das aldeias. Exigimos que haja o pólo
base, especifico e diferenciado para os povos Karitiana, Karipuna, Cassupá e
Salamãi, fazendo a pactuação entre o Ministério da Saúde e Santo Antonio
Energia.
Ø Retirada da
caixa d’agua em frente ao pátio principal da aldeia, espaços este que era
utilizado para as festas e rituais tradicionais do povo Karitiana.
Ø O Distrito
Sanitário Especial Indígena de Porto Velho terceirizou os serviços de
transporte, alegando que o transporte dos pacientes, não é mais de sua
responsabilidade e que qualquer reclamação deve ser feita à empresa contratada.
Ø A atual empresa responsável
por esse serviço tem estabelecido regras para o transporte de pacientes
incompatíveis com as demandas indígenas e com a realidade amazônica, por
exemplo, os motoristas não trabalham mais a partir das 22 horas, em situação de
emergência. São seis carros e uma van disponíveis para este trabalho e não
existe motorista de plantão à noite e fim de semana Nos finais de semana e
feriados. Exigimos a imediata rescisão desse contrato com esta empresa e
entendemos que o DSEI é sim o responsável pelo transporte de pacientes
indígenas.
Ø Exigimos a
contratação de AISAN, AIS e estruturas de saneamento básico na aldeia Juari,
bem como, pessoal de serviço de limpeza para a aldeia Kyowã (Central). É
importante que seja considerado a especificidade cultural do povo Karitiana,
onde precisamos um homem e uma mulher para o trabalho de AIS nas aldeias.
Ø Reivindicamos a
formação/contratação imediata de Microscopistas Indígenas para todas as aldeias
de nosso povo.
EDUCAÇÃO:
Ø Exigimos
a imediata implementação da Lei 578/10 que criou o cargo de magistério público
indígena e quadro administrativo, notadamente no que se refere ao concurso
público para esses cargos e participação efetiva de representantes indígenas na
comissão de elaboração do referido concurso público, para garantir as
especificidades das diferentes realidades indígenas.
Ø O
transporte da educação escolar indígena atende os professores não indígenas,
que atuam nas aldeias. Exigimos que os mesmos direitos sejam estendidos aos
professores indígenas. Que seja disponibilizado
o mais rápido possível o transporte escolar dos alunos do 6º ano e ensino médio
da aldeia Bom Samaritano para a aldeia Central.
Ø O
recebimento da alimentação escolar é deficiente nas escolas do nosso povo,
principalmente na escola Kyowã, aldeia Central. Queremos a normalização da
alimentação escolar, pois é um direito amparado pela lei.
Ø Exigimos
a continuidade do Magistério Indígena (curso Açaí II), pois nossos professores
ficam sem a formação dos professores no curso de magistério indígena e também a
regularização de todas as escolas indígenas do povo Karitiana.
Ø Implementação
do Conselho Escolar das escolas do povo Karitiana e elaboração de seu estatuto,
contemplando, na sua coordenação, representantes do nosso povo.
Ø Contratação
de professores nas áreas especificas a partir do 6º ano, como também de
funcionários para a limpeza do espaço escolar e de merendeiras.
Ø Regularização
do Ensino Médio na Escola 4 de Agosto, considerando suas especificidades.
Implantação do Projeto do Sexto ao Nono ano e Ensino Médio em todas as Escolas
Indígenas do Povo Karitiana.
Ø Que
haja participação ativa do povo indígena na política de educação escolar
indígena, na gestão das ações e no controle social e garantia de uma educação
especifica e diferenciada, segundo os princípios aprovados pelo MEC.
Ø Agilidade
na construção de escolas indígenas nas aldeias: Bom Samaritano, Juari e Byjty
Osop Aky, adaptadas à realidade local, com estrutura física que garanta seu bom
funcionamento, garantindo que sejam contratados os indígenas para o trabalho.
Projetos Legislativos
no Congresso Nacional
Ø O Congresso
Nacional, através de sua bancada ruralista, tem proposto uma serie de Propostas
de Emenda Constitucional ( PEC) e Projetos de Lei ( PL) que rasgam nossos
direitos garantidos na Constituição Federal de 1988; que nos desrespeitam como
seres humanos, que ferem nossos territórios sagrados e que afrontam a nossa
dignidade humana.
·
PEC/215/2000-
transfere para o Congresso Nacional a competência para demarcar Terras
Indígenas e as que ainda não tiveram seu processo demarcatório concluído,
também devem passar pela aprovação do Congresso Nacional.
·
PEC
237/13 que permite a posse de Terras Indígenas por produtores rurais, através
de concessão da União.
·
PL
1610/96 que regulamenta a mineração em Terras Indígenas. Nós povo Karitiana só
aceitamos discutir essa regulamentação dentro do PL Estatuto dos Povos
Indígenas, conforme proposta pela CNPI.
·
Portaria
303/12 da Advocacia Geral da União- interpreta de forma abrangente, errônea e arbitraria as condicionantes estabelecidas pelo Supremo
Tribunal Federal no julgamento do caso Raposa Serra do Sol, estendendo a
aplicação dessas condicionantes a todas as Terras Indígenas, bem como,
repudiamos o Decreto 7957/13, que usa a Força Nacional para reprimir, massacrar
e forçar as pesquisas em Terras
Indígenas.
FUNAI
Ø Que a
coordenação Local, faça um trabalho coordenado com a Associação Akot Pytin
Adnipa.
Ø As hidrelétricas
de Jirau e Santo Antonio atinge o povo Karitiana. Repudiamos que toda pactuação
para reparação ou compensação de danos causados por essas obras estão sendo
feitas diretamente com a FUNAI, sem a
participação dos povos indígenas afetados.
Ø Um desrespeito
para com os funcionários indígenas, que trabalhavam no posto da FUNAI na aldeia
Central como serviços geral e foram levados a cidade para trabalhar como
vigilantes nas dependências da FUNAI, na cidade de Porto Velho, trabalhando 24h
sem receber uma Formação adequada, sem as condições de seguranças para
desenvolver seu trabalho. Exigimos que os mesmos sejam remanejados para assumir
seus trabalhos na aldeia.
Ø Nessa região há
presença de indígenas isolados, reconhecidos pela FUNAI, que podem estar sendo
exterminados. Responsabilizamos a FUNAI, a União, o governo federal e estadual
e as empresas responsáveis por esses empreendimentos por eventual genocídio
desses povos isolados. Imediata interdição e demarcação das terras dos povos
indígenas livres, que transitam no Território Karitiana e seu entorno.
Ø Conclusão
imediata do GT de revisão dos limites da Terra Indígena Karitiana.
Ø Encaminhamento
ao MPF uma solicitação de reunião com IBAMA, SEDAM, Policia Federal, FUNAI
Brasília, para discutir um Plano de Manejo no Povo Karitiana.
Ø Diante da
morosidade do Estado Brasileiro, a FUNAI liberar recursos para a compra de
passagens, afim de que uma comissão possa reunir-se com a Sexta Câmara e o STF
e exigir agilidade no processo demarcatório.
Ø Exigir que o
Governo do Estado de Rondônia cumpra com os acordos que assumiu com o povo
Karitiana no ano de 2012.
Ø Liberação dos
recursos para o inicio dos trabalhos de reaviventação da Terra Indígena
Karitiana demarcada.
Ø Repudiamos as
atitudes dos funcionários da FUNAI por não respeitar nosso representante da
Associação Akot Pytin Adnipa.
Ø Devido o
abandono da FUNAI, exigimos o afastamento do administrador Regional de
Ji-Paraná.
Diante de tudo, renovamos nossa indignação e
nossos protestos e exigimos respeito aos nossos direitos tão duramente
conquistados pela Constituição Federal de 1988 e Convenção 169 da OIT, e hoje
ameaçados por aqueles que só sabem explorar as riquezas e os povos do nosso
país. Exigimos agilidade nos encaminhamentos propostos pelo Povo Karitiana.
Aldeia
Central, 17 de Maio de 2013.
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